Havia feito planos de passar o Natal em Santa Teresa, com a minha família. Este seria o primeiro natal que o Jim estaria conosco, com as co-memorações à brasiliana, peru, farofa, amigo X, abraços, lágrimas de emoção... Infelizmente não foi assim que aconteceu. As fortes chuvas inundaram ruas e morros, florestas e cachoeiras, pontes e pinguelas e muito mais, invadiram nossos corações de completa incapacidade de lutar com a força que a natureza nos oferece. Mas com ela veio a força da solidariedade, do amor ao próximo! Então, teremos que esperar mais um ano para uma ceia de natal em que o Jim possa participar. Pra depois da chuva eu quero fazer algumas coisinhas. Quero rir mais das bobagens que vemos nas ruas; quero pensar na vida de cada uma das pessoas que a gente esbarra. Os artistas de frente dos carros, aqueles malabaristas que a gente torce o nariz quando param no sinal, bem na nossa frente, para ganhar um prato de comida no fim do dia ou mesmo mais uma pedra de crack. Aquelas estátuas vivas que tanto nos emocionam, por sua beleza e seriedade. Tentar ser um pouco mais compreensiva com a insistência dos guardadores de carro. Ajudar sem olhar a quem e sem alarde. Fazer uma salada com todas as cores que puder encontrar. Cumprimentar aquele rapaz que nem olha pra gente dentro do ele-vador, sem ser picuinha, como tenho sido com ele. É que eu digo “Bom dia” e ele não responde. Então grito alto! E recebo de volta um grunhido. Para depois da chuva, vou esquecer o passado e olhar bem de frente o presente, que chegou com força. Vou fazer questão de esquecer o passado de todo mundo, inclusive o meu. Passado só serve pra gente ficar ruminando o que não deu certo. Se pensar um pouco que o presente pode dar-nos a possibilidade de futuro, aí sim... Terá valido a pena dar um pontapé na bunda do passado, que é o que ele merece, com toda força. Pra depois da chuva, vou compreender mais as pessoas como elas são. Não adianta eu ficar com inveja da vizinha do primo do amigo do irmão do filho do meu amigo, só porque ele tem uma vidinha mais ou menos melhor que a minha. O importante é que eu posso comprar tudo que eu preciso e não tudo que eu quero. Tenho que me acostumar com isso. Sempre haverá o tempo da reflexão sobre os nossos pequenos e grandes erros. Descobri que as pessoas são exatamente iguais em qualquer parte do mundo e isso o Facebook (junto com a vida real) me ensinaram. Algumas vezes fico feliz com esta descoberta e outras, servem-me para ver quanta gente sem sentimentos, para ver quem é amigo de verdade, pra quem gosta de ostentação, quem é simples, quem ama a natureza, quem tem fé do lado de dentro... Oh, se serve! Pra depois da chuva vou pedir mais desculpas pelas minhas atitu-des erradas. Vou tomar vergonha e começar a praticar o desapego com mais in-tensidade. Vou abraçar a Nina com força todas as vezes que eu me sentir fraca, porque ela me dá uma força grandiosa! E pra depois da chuva... Vou amar o sol mais e mais, sem me esquecer do filtro solar, porque da última vez que deixamos o sol queimar nossa pele ele queimou tanto que ficamos com insolação. Pra depois da chuva vou fazer uns planos para nós dois. É a primeira vez que sou um mais um, onde o respeito e o amor se instalaram de verdade. Mas isso é pra depois da chuva... Por enquanto fico abraçadinha assim, assim. Domingo de Natal de 2013. Sonia Rita Sancio Landrith |