senhora” somente veio a ser compreendido por mim muitos anos depois. Senhora é aquela pessoa que está acima de você, que sabe tudo, que manda, exige respeito e não aceita nenhuma resposta em suas decisões. Eu adorava piqueniques, folguedos, jogar ferrinho, pescar, re-cortar figuras de revistas velhas, ler todos os livros que eu tives-se disponibilidade. Um dia comecei a adolescer e descobri o va-lor de um saltinho no sapato, o batom, o primeiro soutien... E era assim: - Mãe, amanhã é a festa da padroeira. A senhora me deixa com-prar um... - Não! - ... sapatinho lindo que eu vi... - Não! - ... que tem um saltinho de dois centímetros. Deixa? - Não! - Mas mãe... Porque a senhora não deixa? - Porque não. E assim eu carregava minhas frustrações semanas e meses, dias longos e anos. Nem por isso eu deixava de respeitar a minha mãe. Nem as “embrocações” na minha garganta inflamada, que eu tinha que ir na farmácia e me submeter sem reclamar e abrir a boca; nem isso era motivo de chorar ou mostrar que doía e incomodava intensamente... Durante as férias meus pais me deixavam ir passar uns dias na roça, com a Nona e o Nono. E eu morria de saudade... Lembro-me perfeitamente quando voltei de uma dessas visitas. Minha mãe estava na igreja e eu fiquei de pé, olhando para ela como se fosse a deusa mais linda do mundo. Foi a única vez que minha mãe sorriu para mim. Eu me senti a mais feliz das meninas de sete anos do mundo! Não quero que pensem que eu não amava minha mãe, pelo con-trário. Mas para quem foi criada passando fome e trabalhando nas casas como empregada doméstica, minha mãe até que se saiu muito bem e criou os cinco filhos, deu estudo junto com meu pai, meu amado pai... Criar um filho é saber colocar rédeas quando necessário, é ser a maior amiga quando precisam de nós... Tantas lembranças pas-saram pela minha mente nas horas que passei no laboratório... Sunny Landrith
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