garden tour", onde só cabe um pé não muito grande de cada vez. Lá estão plantadas mais de trinta espécies de ervas para chás e con-dimentos. Algumas plantas são bastante conhecidas como salsa, coentro, cebolinha, tomilho, almeirão, quebra-pedra, dente-de-leão, erva-cidreira, guaco, capim santo, mastruço, arruda, comigo-ninguém-pode, espada de São Jorge, abre-caminho; outras são consideradas mais nobres como alfazema, capuchinha, cânfo-ra, macelinha, losna, manjericão, camomila, barba-de-velho, sálvia, babosa, dinheiro-em-pencas, citronela, carqueja, cavali-nha, melissa, funcho, poejo, orégano, bálsamo. Além disso, há um coqueirinho e uma begônia que herdei da mi-nha filha; um limoeiro, herança deixada pelo meu vizinho que se mudou; uma cerca viva de pingos-de-ouro à esquerda, que foi deserdada pela outra vizinha; nova cerca viva de ficos à direi-ta, que eu mesma plantei. Ganhei também uns vasinhos de plástico da vizinha do bloco se-guinte ao meu e juntei com uns que já possuía, plantando neles pimenteiras e algumas matrizes de difícil reprodução; depois os pendurei nas travessas de bambus no interior do jardim. Cortei os fundos das garrafas plásticas grandes de refrigerantes e as pendurei também no interior da horta, cada qual com uma poesia plastificada no interior, todas dedicadas às plantinhas e aos animais que circulam na área. Há sabiás-laranjeira, sabiás-da-terra, beija-flores, gaviões, lagar-tixas, pombos. Não sei se felizmente ou infelizmente, têm apa-recido outros que foram expulsos do Parque Nacional de Brasí-lia, recentemente incendiado. A identificação das plantas nos canteiros é feita em cds inutiliza-dos presos em palitos de churrasquinho, com os nomes gravados em tinta especial, dando-lhes um brilho ofuscante ao sol e ao luar. Do início da horta até a calçada são mais ou menos dez metros de distância e até a rua treze metros. À medida que as plantinhas foram crescendo e os "efeitos espe-ciais" sendo incrementados, os transeuntes começaram a se deter para admirar o trabalho ali em desenvolvimento, especial-mente nos fins de semana durante suas caminhadas. Depois, passei a observar uma habitualidade nas pessoas, que paravam quase sempre em qualquer horário, sem distinção de idade, sexo ou formação. Nas vezes em que eu estava nas proximidades, fui interpelada ou "puxei assunto", transformando-a imediatamente na horta-cara-do-papai, que era dono de um carisma extraordinário Em qualquer lugar que chegasse, bastavam-lhe dois ou três mi-nutos para conquistar um ou mais ouvintes atentos às suas histó-rias. Ele ia emendando uma na outra, sem ordem cronológica, mas com minúcias e criatividade capazes de prender a atenção por horas. Quem o conheceu sabe bem que ele era um excelente contador de "causos". A horta acabou ficando bonitinha, ganhando a simpatia de mui-tas pessoas. Foram aparecendo colaboradores, clientes, admiradores, farma-cêuticos, poetas, jornalistas, que têm me cumprimentado pela iniciativa e criatividade – herdadas! Acabou ganhando o status de Horta Comunitária. Entusiasmada com o sucesso do empreendimento, resolvi criar um "Livro de Visitas", em plástico, e colocar uma tabuleta na entrada com os dizeres: BEM-VINDOS À
VER, OUVIR E
FALAR COM A NATUREZA, DA QUAL SOMOS Texto publicado no Diário de Catalão e no site: https://www.sandrafayad.prosaeverso.net
Sandra Fayad |