A de costura era Singer, trazia, sobre sua cor preta, em letras
douradas, a marca impressa. O móvel em que era guardada e que também
lhe
servia de base de apoio, era de madeira escura, forte e pesada.
À direita da máquina havia uma roda pequena que trazia, do
lado esquerdo, uma depressão, sobre a qual deslizava a correia marrom, que seguia
através de um furo, indo encontrar na parte inferior do móvel,
uma roda de
ferro grande. Após acomodar-se no sulco desta, a ponta da correia dava a volta dessa roda e voltava à superfície através de outro furo, que
ficava ao lado
do primeiro, indo encontrar-se com sua outra ponta, a
qual se prendia um gan-cho de ferro.
A segunda roda por onde a correia passava, era soldada a uma alavanca, e essa alavanca, presa a um pedal.
Para dar inicio à costura impulsionava-se a roda menor com a mão, a
correia presa à roda maior fazia-a mover-se e esta última,
através da alavanca, movimentava o pedal, permitindo aos pés dar o
impulso necessário para
que se começasse a costurar.
Como se estivesse em exposição, a máquina da minha avó per-manecia
aberta o dia inteiro, pronta para atender os comandos da-dos por ela.
Obediente, junto às mãos hábeis de vovó, transformava
as peças de
tecidos em toalhas de banho, fraldas, cueiros, cobertorzi-nhos para
bebês; os
sacos de farinha em lençóis, fronhas, panos de pratos e calcinhas; as calças usadas de papai em saias para mamãe ou em calças para meus irmãos.
Vestidos
gastos eram remontados - blusa de um vestido era costurada na saia do
outro.
Os retalhos que sobravam sempre eram reaproveitados e se transformavam em
colchas.
Vovó aproveitava ao máximo cada peça de roupa.
Seu refrão era:
“
conserta teu pano que te dura um ano, torna a consertar que
volta a te durar, conserta mais uma vez que te dura mais um mês.” E tudo que ela
costurava, era sempre costura-do naquela bela máquina que a acompanhou
pela vida
toda e da qual nunca vou esquecer.
Muriel E. T. N. Pokk
Texto registrado em cartório
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