Era uma tarde de primavera.

      Dentro de casa estava quente e resolvi dar uma volta para refrescar.  Na rua, corria uma brisa suave trazida pelo vento.

      Resolvi dirigir-me  para uma praça que ficava perto  e  logo encontrei um banco vazio  onde me sentei.  Muitas crianças brincavam alegremente,  umas no balanço,  outras catando pedrinhas para jogar no lago só para ver as  pequenas ondas que se formavam.  Algumas  corriam atrás das borboletas que pousavam sobre os roseirais que envergados de flores já abertas e inúmeros botões prestes a abrir.

      Vastos canteiros de crisântemos brancos  e  amarelos chamaram a  minha atenção.  Fiquei olhando,  admirando-os e  não percebi que um homem bem vestido usando terno marinho,  camisa branca  e sapatos impecavelmente  lustrosos sentara  ao meu lado.  Olhei-o  de soslaio e percebi que seus olhos eram verdes.

      Distraída, olhando para as crianças e as flores, não me dei conta de que aquele homem, de inopinado, levantara-se e fora embora.  Procurei ver para onde havia ido e não consegui; ele simplesmente desaparecera como se envolto por uma densa bruma.

      Ocorrera-me que conhecia aquele homem, mas não me lembrava de onde.

      Voltei para casa e ao preparar o meu banho o telefone tocou.  Fui atender e, do outro lado, ouvi uma voz que não reconheci.  Era uma mulher que logo se identificou como  sendo minha amiga na juventude  com quem gostava  de passear na praça principal da cidade onde nasci.

      Após falarmos por alguns minutos,  fiquei intrigada com aquela ligação, uma vez que nunca, em muitos anos, aquela amiga me procurara.

      Falamos sobre a nossa vida até que ela me disse que naquela tarde o meu primeiro namorado havia falecido.

      Aí me lembrei dele:  o homem que se sentara ao meu lado era o meu  primeiro namorado,  aos quatorze anos e que  por  intransigência do meu pai nunca mais pude ver.

      Agora sei que ele jamais me esqueceu e veio me avisar da sua morte.


      RJ, 16/10/13



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