Viajando pelo interior do Congo - Parte 5
 
Recebi em 25/07/2022

Após havermos passado com o jipe, um elefante irrompeu da mata furio-samente, e derrubou a árvore...

Batemos a foto e arrepiamos carreira, antes que ele percebesse que havia um jipe no meio do caminho...

VIAGENS AO INTERIOR DO CONGO - PARTE 5
Marcial Salaverry


Esse périplo Kinshasa/Kenge/Masi/Bulungu/Kikwit/Bandundu/ Kinshasa, foi repetido por diversas vezes, pois a cada dois meses sempre tinha aquele grande prazer de passear tranquilamente por aquelas calmas paragens.

As estradas e as balsas, eram sempre as mesmas...

Todavia, para quebrar a "monotonia" das viagens, a cada uma delas, aconte-ciam incidentes diferentes.

Senão vejamos:

Em outra viagem, durante a parada em Bandundu, fiz um passeio interes-sante.

Aliás, parada forçada, pois na véspera caíra um violento temporal, deixando a "estrada" completamente impraticável.

Resolvemos então, passear de lancha pelo Rio Congo.

O passeio transcorria agradavelmente.

O visual era magnífico.

Nas árvores às margens do rio, os macacos faziam a maior festa e os amigos crocodilos, pachorrentamente deitados às margens, não se preocupavam muito conosco, pois passávamos muito rapida-mente por eles.

De repente, um solavanco.

A lancha havia encalhado em um banco de areia.

Leonardo Martins, o cliente e amigo que estava comigo, perguntou se eu sabia nadar.

Inadvertidamente disse que sim, então ele me convidou para descer da lancha e desencalhá-la, pois ele não sabia nadar.

Ao fazê-lo, notei que os crocodilos começavam a se agitar.

Até hoje não sei onde arranjei tanta força para desencalhar a lancha em tempo recorde e prosseguirmos o passeio.

Decididamente não tinha a menor intenção de colaborar para a campanha "Alimente um Crocodilo Faminto".

Um pouco mais adiante, percebemos um enorme alarido na água.

Cometemos a insanidade de chegar um pouco mais perto, para ver o que era.

Uma família de hipopótamos estava entregue a alegres folguedos na água.

Chega a ser divertido apreciar um bando hipopótamos brincando.

Eles tem uma capacidade pulmonar inaudita.

Seus alegres gritos poderiam ser ouvidos a quilômetros.

Ficamos a uma distância prudente, pois se os inocentes bichinhos resol-vessem brincar conosco, não seria nada divertido.

Pelo menos não para nós...

Com aquele congestionamento à nossa frente, achamos mais prudente encerrar o passeio, e voltar para Bandundu.

Uma das coisas que mais incomodava nessas viagens, era a ausência total e completa de notícias da e para a família.

Através de aparelhos de radiocomunicação, conseguia ao menos dizer que ainda estava vivo, através de recados passados para a fir-ma.

Tais aparelhos funcionavam com uma precariedade terrível.

Todavia, só conseguia receber notícias da família telepaticamente, e feliz-mente Neyde e eu tínhamos muito boa conexão "pensamental".

Telefone, nem pensar.

Naquela época e naquelas paragens, nem na imaginação, a tecnologia era precaríssima...

Houve outra ocasião em que me vi em uma situação, digamos, muito desconfortável.

Estávamos viajando, já começo de noite, quando percebemos uma aldeia a nossa frente.

Alexander convenceu-me de que seria mais confortável aproveitarmos a hospitalidade congolesa, do que dormir no jipe.

Lembrei-me da visita daquelas sensuais leoas, e concordei.

Antes não o tivesse feito.

Não sei o que seria mais arriscado, a sensualidade da leoa, ou da oferta que me foi feita.

Pelas "leis" da hospitalidade congolesa, quando a aldeia recebe uma visita ilustre (e eu o era, pelo menos na concepção deles), o chefe oferece sua filha mais jovem para, digamos, "servir" o hóspede.

Eu não sabia disso.

Havia conseguido escapar do jantar, pois tinha minha comida, da qual "por motivos de saúde", não podia abrir mão, mesmo porque a chikwanga não era nada apetecível, nem para meu olfato, nem para o paladar, e podem ficar certos de que sempre fui "bom garfo", mas aquelas "iguarias"... nem pensar...

A coisa se complicou quando o chefe me apresentou o "presente", sua filha de 10 anos, eu já não estava entendendo mais nada.

Muito divertido, Alexander explicou-me sobre o costume local.

Pedi a Alexander que explicasse ao chefe que, na verdade, eu era um padre missionário que estava viajando para conhecer onde construir a próxima missão, e que, portanto, não poderia seguir o costume.

Ele ficou triste mas entendeu que os padres fazem um voto de castidade, e entendeu minha atitude...

Foi mais interessante dar a benção à aldeia toda, e ouvir a confissão de alguns, do que "seguir o costume".

Coisas do Congo...

Houve uma passagem muito pitoresca, quando tive que "tourear" com um elefante.

Estava em uma aldeia perdida nos cafundós do interior, tentando resolver o que fazer para prosseguir a viagem, quando irrompeu um elefante aldeia a dentro.

O missionário italiano responsável pela aldeia, quando viu que o elefante vinha em minha direção, gritou: "stai zitto", ou seja, fique quieto.

Não mexi um músculo sequer, e nem que quisesse conseguiria, estava paralisado...

O bichinho passou em disparada tão perto de mim, que senti seu perfume embriagador.

Depois, quando consegui recuperar a fala e a respiração, meu amigo Giuseppe disse que se eu tivesse feito qualquer movimento, ele me teria atacado.

Ao ficar imóvel, (que remédio, estava paralisado), salvei minha vida, pois o simpático bichinho achou que eu era um totem, ou algo parecido.

E depois dizem que o medo prejudica a vida...

E ainda fui muito elogiado pelo meu sangue frio...

Virei um heróis para eles...

Certa vez, quando Alexander foi fazer uma de suas incursões para colher abacaxis para nossa refeição, ouvi um grande alarido na mata.

Percebi que ele estava sendo perseguido por alguns macacos.

Rapidamente entrei no jipe, fechei bem as janelas, abrindo rapidamente a porta para que ele pudesse entrar, e aí então, fomos literalmente cercados por um grande bando de macacos brincalhões que queriam, por força, entrar no jipe, batendo nas portas e janelas, saltando sobre o para brisas.

Para assustá-los, liguei os limpadores.

Fizeram a maior farra com aquela coisinha se mexendo na sua frente, terminando por arrancá-los.

Devagarinho, conseguimos ir abrindo caminho entre os divertidos bichinhos, até que conseguimos seguir viagem.

Ainda fomos seguidos por um bom tempo pelo bando.

Realmente, agora, com as lembranças, é que vejo como foi aventurosa e válida essa estada no Congo.

Um tanto quanto arriscada, mas valeu a pena, para aprender a dar valor à vida...

Ainda tenho muito mais coisas para contar, e sempre agradeço a Deus por ter me mantido vivo para poder estar aqui agora, desejando que todos tenhamos UM LINDO DIA...

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