UM BRASILEIRO NA ÁFRICA
VIAGENS AÉREAS PELO CONGO
Este é um capítulo especial do que foram as
aventurosas
viagens aéreas pelo Congo...
Os passaportes venceram, e era preciso
renová-los.
Brasil e Congo não tinham relações diplomáticas.
Assim, foi preciso ir até Luanda, para efetivar
a renovação,
e foi uma viagem simplesmente maravilinda...
Trecho extraido do
capítulo, PASSEIO EM LUANDA...
O avião acima, é uma réplica daquele onde
viajei...
Sinto-me lá dentro...
Como em Kinshasa não havia embaixada, nem do
Brasil, nem de Portugal, foi necessário ir até
Luanda para renovar os passaportes.
E
foi uma maratona, pois nos deslocamos de jipe de
Kinshasa até Matadi, e lá atravessamos a
fronteira para a base militar de Noqui, onde
iriamos em-barcar num garboso monomotor para ir
até Luanda.
E
lá fomos nós...
Apenas Neyde e eu, pois as crianças ficaram em
Kinshasa, aos cuidados de nosso amigo Ruy Hasson...
E
então, começou uma aventura totalmente
inusitada...
Senão vejamos.
O
comandante militar de Noqui, ao saber estar
diante de brasileiros, des-manchou-se em
gentilezas, e convidou-me para assistir ao
interrogatório de alguns rebeldes capturados.
O
interrogatório desenvolveu-se no dialeto “kimbundo”,
do qual tinha al-gum conhecimento.
Pude, então, constatar com assombro os reais
motivos que levavam aquela gente à sangrenta
rebelião em que estavam envolvidos.
Esperando ouvir as tradicionais declarações de
“queremos independência”, “amor pela pátria”,
fiquei verdadeiramente estarrecido ao ouvir que
o prin-cipal motivo que os impelia à guerra, era
o fato de que o feiticeiro da tribo lhes dissera
que, “para cada branco que matarem, terão 1 ano
a mais de vida”.
Pode?
Fazer-se uma rebelião tão sangrenta só por esse
motivo?
Enfim...
Coisas da África.
Fomos então chamados ao “aeroporto” onde vimos a
possante aeronave que nos levaria até Luanda.
Um
garboso monomotor de 4 lugares.
Ficamos encantados com essa oportunidade
de viajar com exclusividade.
Só
o piloto, Neyde e eu.
O
encantamento aumentou, quando o piloto com a
maior simplicidade, pe-diu para encostarmos o
jipe mais perto da avioneta, pois ele precisava
fazer uma “chupeta” na bateria, para poder dar a
partida no avião.
Achei excelente o sistema.
Minha esposa inadvertidamente, perguntou o que
poderia acontecer se a ba-teria “pifasse” em
pleno voo.
Muito divertidamente, o piloto só disse: "Aí,
madame, não haverá com que se preocupar.."
Não se esqueçam de que iríamos sobrevoar uma
região de floresta fechada, e em poder dos
rebeldes.
Decididamente reconfortador.
Felizmente, chegamos a Luanda sãos e salvos,
apenas com ligeira alteração nos batimentos
cardíacos.
Luanda
merece um capítulo à parte.
Era uma
cidade linda.
Muito bem
cuidada.
Com
inúmeros pontos de diversão.
Além dos
encantos naturais da cidade, outras coisas
chamaram nossa aten-ção, a começar pela
gentileza especial que fomos tratados pelos
patrícios portugueses.
Realmente,
nunca é demais salientar esse detalhe.
Foi só
correr a voz de que haviam brasileiros em
Luanda, e começamos a ser procurados por eles.
Uma certa
tarde, estávamos parados num ponto de ônibus,
quando um cida-dão veio falar conosco, indagando
se “nós éramos os brasileiros que haviam chegado
do Congo”.
Ante nossa
afirmativa, não teve dúvidas em colocar-se a
nosso dispor para nos levar a conhecer todas as
belezas de Luanda.
Jamais
havia visto tanta gentileza.
Jamais
poderei agradecer suficientemente o tratamento
que nos foi dispen-sado.
Fomos
convidados para sardinhadas, bacalhoadas,
passeios.
Tudo pelo
simples fato de sermos
“os brasileiros que haviam chegado do Congo”.
Realmente impressionante.
E,
sobretudo, inesquecível...
E
para a viagem de volta, não houve necessidade de
nenhuma "chupeta", mesmo porque o jipe havia
ficado em Noqui, e nos levou a Kinshasa de
volta...
(Nota
da Redação)
Chegamos sãos e salvos, pois a bateria não pifou,
e assim posso estar contando a história,
e sempre desejando a todos UM LINDO DIA...
Marcial Salaverry
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