Assim não, muito obrigado!


            Padrões de vida do " primeiro mundo"?
            - Assim não, muito obrigado!

                                                               Uma crônica de Eugénio de Sá

Li, algures, nestes últimos dias, que, nas igrejas de Washing-ton e Nova York, é notório o vaivém de homens de terno escu-ro, vestuário tão próprio dos executivos.
Lembro-me, a propósito, de uma velha frase que se ouvia em Por-tugal; "só te lembras de Santa Bárbara quando faz trovões". - E, na realidade, são de tempestade os tempos que se aproximam para os americanos, e não só. E,  desta vez, não há como  endossar respon-sabilidades porque se sabe quem tem todas as culpas no cartó-rio. E, desta vez, é mesmo o povo americano que, em primeira mão, vai pagar a fatura, através de um previsível e violento au-mento de impostos e, mercê do crescimento a cair; de um previsí-vel aumento no desemprego.


Assistimos, nestes últimos dias, pelos media, ao pavor estampado na cara dos políticos americanos, e noutros, um pouco por todo o mundo. Segreda-se nos corredores dos ministérios das finanças, nos dos bancos comerciais e centrais, dos países da América, Europa e Ásia, que o buraco financeiro americano é  muito maior do  que parecia
(e fora anunciado) á primeira vista. E, nas bolsas de refe-rência, as quedas eram, já hoje, assustadoras.

Parece que, para financiar os bancos americanos – não se fala em sanear,  note-se – são precisos, de imediato, imagine-se: 700 bi-lhões de dólares, embora se admita que o tal buraco possa ultra-passar, a inimaginável soma de um trilhão e trezentos bilhões.

Ora, só para se ter uma (pequena) ideia do que este valor significa; o primeiro valor citado (700 bilhões) é três vezes superior ao pro-duto interno bruto anual de um país como Portugal, por exemplo.

Alguém perguntava hoje, na televisão, como se pôde chegar a isto. E a resposta veio clara: com um super e desregrado financiamento à vasta e mais que majoritária classe média (baixa) americana, permitindo - e cito o exemplo dado - que se financiassem (por in-teiro) automóveis, com base na garantia da hipoteca de uma casa acabada de comprar e (quase) 0% paga.

Assim, é fácil apresentar ao mundo o "way of life" americano como padrão de vida a copiar pelos países do terceiro mundo (segundo "eles"). Afinal - e sob essa óptica - o segredo  para se ser do "pri-meiro mundo" parece ter por base uma máxima muito conheci-da: "o dever acima de tudo"! – só que no pior sentido do ter-mo. Quem só sabe (e só quer) ser honesto e  ter as suas contas em dia, só pode ser mesmo considerado do "terceiro mundo", está vis-to.

Numa palavra: os grandes (
e, talvez, também os pequenos) bancos norte americanos – os que ainda subsistem – tem todos os alar-mes de liquidez a apitar, face aos níveis de créditos mal parados, ou mesmo incobráveis, tais os níveis de endividamento permitido aos cidadãos, tentados pela publicidade aos múltiplos (e amarga-mente fáceis) produtos oferecidos pela banca americana.

Os tais 700 bilhões destinam-se a mantê-los capitalizados a níveis permissíveis para poderem funcionar. Porque, sem financiamento não há mercado, e, sem ele a funcionar, não há economia que re-sista, nem mesmo a maior do mundo!

E tudo isto, infelizmente, está a ter e vai ter ainda mais "
efeitos de dominó" em todo o mundo, dada a importância dos Estados Unidos no mercado mundial. A baixa que já se registra nos valores das fa-mosas "commodities" nas bolsas, são uma primeira confirmação.

Vamos assistir, nos próximos dias, a vários – e, certamente, inte-ressantes - episódios nos bastidores da política norte americana. Só não digo... "de uma farsa",  porque a situação, mesmo pa-ra quem se está digladiar - palmo a palmo - por percentagens elei-torais, parece demasiado grave para assim ser encarada. - Ou os vi-sados não se afirmassem patriotas e o sejam, realmente, como é natural...

Já vimos, entretanto, umas quantas piruetas, por antecipação, pe-los bicos de pés em que se têm posto os tais candidatos à presidên-cia de um país que parece não poder dar mais exemplos ao mundo. Pelo menos, enquanto durar a memória do que... ainda há de vir! - Bem lhes bastam as botas, ainda por descalçar, das centenas de milhar de militares destacados no Iraque e no Afeganistão.

Eugénio de Sá
São José do Rio Preto - SP - 26/09/2008



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