Alerta: Como confiar em um médico?


Vinha notando há tempos que minha voz estava sofrendo altera-ções.

Sou professora e a voz é um dos meus instrumentos de trabalho.

Ontem (27/05/2009), depois de dar quatro aulas, a voz sumiu.

Relutante, procurei um médico do convênio ao qual pertenço.

Confesso que não gosto de ir a médicos, vou contrariada. E foi com este sentimento, que adentrei o consultório do doutor em questão (nome omitido por questões éticas).

Não fui examinada e apenas questionada se sofria de asma. O dito doutor prescreveu-me corticoides. Disse que minhas cordas vocais estavam inflamadas. Quem sou eu, para questionar um profissional da saúde, mas meu anjinho da guarda soprou-me algo ao ouvido.

Perguntei ao médico se não haveria contra-indicação com a medi-cação antidepressiva que faço uso.

Em primeiro lugar, ele desconhecia o medicamento. Foi consultar um livrinho e não encontrou o nome do tal remédio.

Olhou-me com aquele olhar cáustico e disse:

_ A senhora deve tomar isto e pela manhã sua voz terá voltado!

Eu não disse mais nada. Saí dali reflexiva e preocupada. Fui até o outro convênio, para ouvir uma segunda opinião.

O segundo médico examinou-me, fez algumas perguntas de praxe, me mediu a pressão (que a esta altura já estava em 15/08).

Encaminhou-me a um otorrinolaringologista, dizendo que não tinha muitas condições de avaliar melhor o meu problema. Receitou ape-nas um analgésico para a dor.

Hoje, fui ao médico indicado (a consulta rende uma crônica de hu-mor). Este também examinou, fez as perguntas de praxe e também uma vídeo-endoscopia das cordas vocais.

Não era câncer, nem nódulos. Era um refluxo de ácido clorídrico, vindo do estômago. Como não tinha azia como sintoma, jamais po-deria imaginar que esta fosse a origem do problema vocal.

Voltando ao primeiro médico... Se eu tivesse tomado a cortisona, ao invés de melhorar, meu estado teria se agravado, pois um dos efeitos colaterais dos corticoides é o aumento da acidez estoma-cal, sem contar com a retenção de líquido e consequente aumento da pressão arterial.

Então, agora, eu me pergunto: Como confiar em um médico?

Se eu tivesse seguido a prescrição médica do primeiro doutor, eu estaria com mais ácido clorídrico no estômago e com a pressão ar-terial nas nuvens.

Bendito anjinho da guarda! Alias, obrigada, amigo! Havia esquecido de agradecer-te!

PS: fico pensando naqueles que não têm convênio médico e são atendidos pelos SUS, onde cada "consulta" dura 3 minutos.

Denise de Souza Severgnini
Publicado no Recanto das Letras em 29/05/2009
Código do texto: T1620667


 

 
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