Eu consegui!!!

Recebi em 29/01/2013


Hoje resolvi, tão logo se insinuou o arrebol do nascer do sol, que-brar minha rotina das quatro voltas no quarteirão.

Peguei meu carro (
um possante Gol 1991) e fui para o Lago de Javari, com a intenção de dar uma volta completa em torno dele (a pé).

Em lá chegando, estacionei sem dificuldade e iniciei minha mar-cha, após fazer o sinal da cruz.

Terreno plano facilitou meu atlético intento.

Passavam por mim inúmeros menos jovens, uns até correndo e eu na minha comedida caminhada.

Não ultrapassei ninguém e teve um que, correndo, passou por mim outra vez.

Completada a minha humilhante performance, comprei o jornal e sentei-me no gramado à beira do lago.

As notícias predominantes eram sobre a tragédia de Santa Maria (RS) e novamente sinto meu peito ainda arfante, em chamas.

As mesmas chamas que levaram Talvez ainda termine hoje.

Caso positivo, mando pra você - OK? precocemente à morte, vidas recém iniciadas.

Procuro ler outros publicados e o faço sem prestar atenção ao que leio; mente tomada pela catástrofe.

O zumbido de um impertinente pernilongo interrompe meu quase chorar e, usando o próprio jornal, logro cometer um “mosquito-cídio”.

Parte integrante do jornal tinha uma folha dupla repleta de anún-cios coloridos e mais espessa que as outras.

Separo-a, divido-a em duas metades e começo a fazer dobras aleatórias, tentando lembrar-me como confeccionava, em minha tenra infância, aquele chapéu para brincar de marcha soldado.

Dando tratos à bola, depois de relativo custo e algumas vãs tenta-tivas, CONSEGUI.

Surgiu às minhas vistas, o tal chapéu que o tempo tinha apagado da minha memória.

Para meu deleite, coloquei-o na cabeça e senti-me com uns dez anos de idade.

Contemplei as mansas águas do lago e sorri de felicidade, vivenci-ando o retorno de minha doce e inocente infância.

Tudo por causa do chapéu que ostentava eu na cabeça, tal como um rei sente sua coroa.

De repente, lembrei-me do copo que fazia para beber água na hora do recreio no colégio que frequentava.

Tentei e CONSEGUI!

Depois lembrei-me do barquinho que fazia com mestria e que mamãe deixava brincar com ele na banheira lá de casa.

Fazia até mais de dois; uma frota em batalha naval.

E finalmente CONSEGUI! Foi a glória!

Com olhos marejados levantei-me e “lancei ao mar” o meu barqui-nho no lago que estava a poucos passos de mim.

As lágrimas rolaram-me pelas faces, seguindo o rumo dos sulcos de minhas rugas e desaguaram em meus lábios.

Como eram doces!

Aí, ocorre, o inevitável: solucei!

Sim!

Solucei emocionado, não me importando que eventuais passantes pensassem ser eu um “velho caduco”.

O barquinho bravamente permaneceu por uns dois minutos flutu-ando mas soçobrou umedecido.

Abanei-lhe um sentido adeus!

Guardei o copo de papel no bolso de minha bermuda, coloquei o jornal no latão coletor de lixo e voltei para o carro com o chapéu na cabeça.

Assim dirigi de volta pra casa sob olhares curiosos.

Alguns até gargalharam ao emparelharem comigo na estrada.

Quem voltava pra casa não era o idoso de 80 anos e nem um senil.

Pelo contrário, era um menino de seus dez anos de idade, no início do caminhar de sua estrada, que, quando rapaz, frequentou boates e saiu ileso de todas, sob a Divina Proteção de Deus.

EU CONSEGUI!!!



Ary Franco
(O Poeta Descalço)



 

 
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