Emocionante afeto mútuo

Recebi em 10/05/2017


Hoje (dia 10/5/2017) senti uma das maiores emoções de minha vida e quero dividi-la com você que está me honrando com sua leitura.

Levei minha Rottweiler, adotada por mim há nove anos e alguns meses, para tomar a vacina óctupla. Estava marcado 10:30h com a clínica veterinária, mas o veterinário estava atendendo uma emer-gência operando uma cadela weimaraner que foi atacada na rua por um Pitbull.

Movido pela curiosidade deixei a Bella no carro com a minha filha e dei uma espiada pelo vidro transparente para a sala de cirurgia. Além do médico operador e seu auxiliar chamou-me a atenção um senhor que aparentava ser um nonagenário. Estava sentado numa cadeira, apoiado com as mãos em uma bengala, parecendo-me ser o dono do animal.

Juntou-se a mim um homem de seus quarenta e poucos anos e con-tou-me a estória da Lady ter sido atacada gratuitamente por outro cão que passava na na rua.

Ele era o motorista daquele senhor idoso que permanecia na sala de cirurgia e estava à espera do término da operação.

Comentei com o meu novo amigo a respeito da idade avançada da-quele senhor e perguntei o porquê dele não ter deixado a Lady ser trazida apenas por ele.

__ Não! Eles são inseparáveis. A cadela vai ficar aqui por 24 horas para observação pós-operatória e ele já disse que voltará à tarde para falar com ela, assim que se recuperar da anestesia geral que lhe foi aplicada. Quer que ela ouça a voz dele e sentir-se recon-fortada com isso.

__ Puxa! Ele gosta mesmo dela!

Nesse exato momento o médico retirou a máscara do rosto e deu por terminada a cirurgia.

__ Agora, vou ter que pegar o meu patrão e trazê-lo de volta para o carro.

__ Vá e trate-o com muito carinho.

__ Sem dúvida! Ainda mais que ele é cego e a Lady e o cão guia de-le.

__ Cégo?!

__ Sim! Mas não se separam. Sei que ele está muito abalado com o que aconteceu com a Lady e terei que consolá-lo. Trabalho para ele há mais de dez anos.

Voltei para o meu carro e emocionado contei para minha filha todo o drama que estava se desenrolando. Enquanto isso, passava em nossa frente o motorista conduzindo o Sr. Adamastor ao carro dele.

Não posso afirmar, mas me pareceu que por trás daqueles óculos es-curos algumas lágrimas estavam acumuladas nas retinas mortas do fiel amigo protetor e dependente da Lady.

Ary Franco
(O Poeta Descalço)




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