Assim, do nada
e do tudo, pessoas que eu convivi quando menina começam a voltar a fazer
parte de minha vida.
Passei a receber e-mails
– “É
a Soninha do Primo e da Melinda?”
– Fotos antigas aparecem, músicas de nossa juventude, gente que não
vejo há muitos anos.
Recebi um contato do Rio Grande do Sul, da Penha,
filha da Bimba, nossa amada amiga... eu não vejo a Penha há tanto
tempo...
(Jardim por onde a
Bá passava)
O quanto eu daria
para que a Bimba estivesse entre nós!
Quem via aquela senhora
grande, de cabelos pintados de preto, de uma inteligência acima da
média, nem podia imaginar o quanto ela foi alguém especial em nossa
vida.
Bimba foi solteira até bem tarde, quando resolveu juntar os “panos
de bunda”,
como ela mesma dizia, com o namorado de muitos anos.
No entanto, ela
era aquela que estava sempre mil passos à frente do futuro.
Já
naquela época, todos nós muito pequenos, ficávamos fascinados com a
quantidade de livretos de palavras cruzadas, livros, revistas de
atualidade, que Bimba tinha – e partilhava com todos.
Muito do que
eu aprendi e tornou-se um hábito saudável - o da leitura voraz -
herdei da Bimba e da Bá, sua irmã, cuja sabedoria já andei
escrevendo nos quatro cantos dos meus cadernos e permanecem ecoando
no meu pensamento, sem-pre...
(Antiga casa da Bá -
restaurada por Nelson Pellacani, nosso tio)
Bá era mais velha
que a Bimba.
Casou-se com o único namorado, um senhor sisudo e
grande, sempre presente na vida da Bá.
A casa enorme, cheia de
quartos por todos os lados, ficava vazia durante o ano inteiro.
Bá e
Bimba não tiveram filhos.
A casa é hoje o cartão postal mais famoso
de minha terra, adquirida e restaurada pelo meu tio, Nelson Pellacani, um construtor de mão cheia e cabeça nas serestas, com uma
voz exatamente igual à do Nelson Gonçalves.
E não era imitação
não... era igual mesmo!
Divagações à parte, Bá recebia os sobrinhos
Raquel, Ivan e Alberto, de Belo Horizonte, para as férias de
dezembro.
Era uma festa.
Todos da mesma idade, sentados à volta da
nossa Bá e aprendendo a viver (melhor).
A casa desta senhora era limpíssima, o assoalho de madeira branca
era esfregado nas madrugadas, pois o “dia
foi feito pra viver com intensidade”,
dizia ela.
Sempre encontrávamos a Bá com a sua voz pausada e grave,
em todos os lugares da pequena cidade.
Não dá para dimensionar a admiração que aquela mulher espalhava por onde ia.
Com ela eu
aprendi tantas coisas... mas foi com a Bimba o meu chamego maior.
(Casa da Bimba, de
frente para a nossa - Centro Histórico de Santa Teresa-ES)
Bimba morava de
frente para a nossa casa.
Da janela, sabia de tudo que acontecia com
a prole da Melinda e do Primo.
Bimba nos defendia com unhas e
dentes.
Tenho recordações de minha infância em que a presença
constante dela foi primordial para esta mente que pensa grande, como
ela mesma dizia.
Como não teve filhos, ia “adotando”
um a um, desde a Cecília até o Toni, o filho que nunca teve.
O Toni
era tudo na vida da Bimba. Levado como ele só, ele conse-guiu a
façanha de ser atropelado pelo único carro existente na cidade, pra
desespero de nossa amiga querida.
Ela era uma espécie de líder e
exercia grande influencia em nossas vidas, sempre solícita e boa,
muito boa!
(Chão de saudade ...
- Foto Cecília Loss)
Muitos anos
atrás, num feriado de Nossa Senhora da Penha, aconte-ceu uma
tragédia em nossa cidade (não
temos lembrança de outra pior),
que dizimou oito pessoas, entre elas um casal, pais de muitos filhos
e mais um a caminho.
Todos ficaram muito comovidos com o acontecido
e Bimba não perdeu tempo.
Foi na Prefeitura e disse que uma das
crianças seria dela.
E assim, Penha, de dois anos, passou a conviver
conosco, como filha da nossa querida Bimba.
Quantas coi-sas eu
poderia contar...
O tempo
levou o alto-falante da Bimba – uma espécie de rádio de rua, onde
ela espalhava o vozeirão para todos, duas vezes ao dia.
O tempo
levou as hortas, os pés de limão, laranja e mexerica, que ela
adorava.
Os canteiros de cebolinha, salsinha e coentro cresciam da
noite para o dia, tão grande era o amor de Bimba pelas pequenas ervas.
O tempo levou as revistas, os discos de vinil de Emilinha
Borba e Marlene, as serestas nas noites de frio, as quermesses e as
missas de domingo.
Mas hoje
foi só uma saudade imensa que bateu.
De Bimba e de Bá, que estão
ocupadíssimas olhando por nós todos lá de outras plagas...
(Santa Teresa - ES - foto
Google)
Sábado é dia de
prosa - Sunny e Cecília,
com saudades da Bimba e da Bá.
Sunny Landrith
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