Este Conto recebeu as seguintes Premiações:
01 – Concurso
de Contos - Casa do escritor – Junho/2006 - 7.º Lugar (Menção Honrosa).
02 – Concurso
"Machado de Assis" – 2.º Lugar – Categoria Contos - Redacional Editora – Londrina – PR – 2006
03 – 18.ª
Antologia de "Contos de Autores Contemporâneos" - Editora CBJE - RJ - Julho/2006
Jiquiriça, município da Bahia, no tempo do cangaço e do coronelis-mo.
Meu pai, quando tinha 12 anos, estava parado, montado numa mu-la, conversando com um fazendeiro.
Aproximou-se um vaqueiro cavalgando uma
mulona e perguntou de maneira prepotente e arrogante, expressando claramente o seu preconceito:
– Negro, o Coronel Coimbra está aí?
Não respondeu.
Meu pai, silenciosamente, apontou com o dedo, revelando que aquele
que ele procurava estava ao seu lado.
Imediatamente o recém-chegado compreendeu sua insensatez, ti-rou
o chapéu justificando-se:
– Coronel, perdoa-me!
Eu pensava que o senhor pelo poder e riqueza, fosse branco!
– O que você quer?
O vaqueiro lhe mostrou um envelope, no
qual um documento infor-mava a entrega de dois mil bois.
– Desça nesta estrada e na terceira cancela, há um rapaz para re-ceber
o gado.
Ao terminar, venha almoçar comigo!
Chegando ao local indicado, acenou para meu pai, deu-lhe uma gratificação em dinheiro, dizendo:
__ Estou com medo que aquele negro me mate!
__ Não se preocupe: ele é uma pessoa boa!
Desculpe-me, o senhor é
um homem de idade e eu sou criança, mas, os ricos tanto podem ser gente branca como preta!
O vaqueiro subiu a escada que o levaria ao sobrado, encontrando o
Coronel vestido de terno, gravata e chapéu brancos.
– Reconhece agora que eu sou o Coronel Coimbra?
Vou lhe mostrar
minha autoridade!
O vaqueiro ajoelhou-se desesperado e pediu perdão.
Havia um sino na parede da varanda onde estavam.
O Coronel puxou a corda várias vezes, ecoando um som ensurdece-dor.
Surgiu então, uma multidão de "jagunços" negros
(o mesmo que ca-pangas, pistoleiros ou cabras).
Impossível determinar a quantidade, pois sumiam de vista; todos usavam os cabelos e a barba longos e estavam armados com rifles de
repetição.
O Coronel fez um gesto com a mão para que
fosse realizada uma demonstração das armas e eles fizeram pontaria para o vaqueiro.
Este fechou os olhos, pressentindo o seu fim.
Contudo, em seguida, todos se dispersaram.
O Coronel explicou que o almoço estava pronto e que depois trata-riam de negócios.
Era o ano de 1924, trinta e seis anos após a abolição da escravatura no Brasil (hoje em 2007, cento e dezenove anos), épocas distintas,
porém, comportamento idêntico na atualidade.
Para que adotar atitudes de desprezo com relação aos outros?
O ser humano ainda não aprendeu a respeitar o seu semelhante, não entendeu o
significado das palavras de Jesus: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo."
(Mateus 22:39).
Atualmente, tal atitude é considerada crime contra a honra. Racis-mo.
No código penal, a pena é de reclusão de um a três anos e multa.