(SEGUNDA
PARTE)
Quando saí, os lordes estavam alvoroçados em meio a um bur-burinho confuso de
vozes. Todos falavam ao mesmo tempo, mas calaram-se deixando no ar um silêncio interrogativo com os olhares cravados em mim. Adiantando-me à enxurrada de
perguntas a que certamente iria ser submetido, falei em voz alta:
__ NOSSO REI PASSA BEM E AGUARDA A PRESENÇA IMEDIATA DO DUQUE FAUSTO E DO MÉDICO
DA CORTE. ESTOU PROIBIDO DE PRES-TAR QUALQUER ESCLARECIMENTO!
Pedindo licença, foi aberto um corredor para minha passagem e dirigi-me ao meu
aposento destinado à criadagem. Ignorava o que se passou na tríplice conversa, a portas fechadas, no salão de refeições. Pouco tempo depois recebi uma ordem de
apresentar-me ao Rei.
__ Leandro, o médico fez um curativo na minha garganta com aquelas ervas que
costuma usar e sinto-me melhor. Não se preocu-pe! Agora, senta-te novamente nesta cadeira pois preciso que me ouças com a maior de tuas atenções. Daqui a
uma semana será co-memorado o meu 52º aniversário natalício, está decidido por mim que no mesmo dia tu receberás a condecoração de Sir. Amanhã ocuparás
dependências aqui no palácio mais condizentes com teu futuro título na corte e terás, confeccionadas por nossos alfaiates, vestimentas novas que farão jus a
tal agraciamento. Preocupo-me com o meu súdito de total confiança que perderei e determino que apontes alguém capaz de substituir-te. Tens esta noite para pensar
e amanhã avisar-me sobre o teu indicado. Ide em paz!
__ Majestade...
__ Não digas nada, mormente eventuais agradecimentos, pois nada tens a agradecer
aquilo que de fato és merecedor. Amanhã conversaremos mais a respeito. Ide!
Passei a noite tresnoitado pensando no quanto se transformara minha pacata e
rotineira vida. A mudança assustava-me e temia não saber conviver com as responsabilidades a mim confiadas. Pela manhã, apresentei-me ao rei.
__ Majestade, indico o nome de Maxwell para substituir-me como seu factótum de
confiança e peço a Deus que não esteja eu errado na escolha que faço.
__ Que Maxwell a mim se apresente.
A semana passou-se rapidamente e, durante as comemorações do aniversário de Sua
Majestade, fui agraciado por ele com o título de Sir. Com meu joelho esquerdo tocando o chão, o rei tocou-me alternadamente em ambos os ombros com uma espada
e proferiu as palavras adequadas à solenidade.
__ Levanta-te Sir Leandro!
O baile prosseguiu e tive a subida honra de valsar com a filha primogênita do
monarca, a princesa Diana, sucessora natural ao trono real de Utopicolândia. Senti que houve uma certa empatia entre nós e chegamos a trocar algumas palavras
interrompidas pelo Lorde Hartley que tocou de leve em meu ombro pedindo a troca de cavalheiros na dança. Muito contrafeito, agradeci à princesa com uma
reverência e retirei-me para a margem do salão; sadicamente, adorei quando outro cavalheiro tirou o Lorde dos braços da dama mui disputada por motivos óbvios.
Imensas glebas me foram dadas pelo Rei e, a médio prazo, for-mei uma bem
sucedida colônia com leais súditos, dividindo meio a meio o lucro auferido com a venda das colheitas. Frequentador as-síduo da corte, iniciei uma aproximação
romântica com a princesa Diana, romance esse permitido e contando com a aprovação de sua majestade.
Em contato direto com o povo e granjeando confiança e sim-patia por parte de
todos, confidenciaram-me que o Rei sofreria um atentado contra sua vida, durante o percurso que faria na visita programada ao reino vizinho. O plano estava sendo
arquitetado por membros da alta corte, dentro do palácio.
Pedi ao monarca uma audiência particular e informei-o do complô.
FIM DA SEGUNDA PARTE