Dr. Wellington era um milionário bem sucedido,
não obstante, vivia infeliz em sua suntuosa mansão. Por companhia tinha somen-te a criadagem que se limitava a obedecer suas ordens em troca de razoáveis salários.
Lá fora havia uma porção de falsos amigos inte-ressados em obter seus favores, nada mais além disso. Viúvo preco-cemente e sem filhos, sentia a necessidade de
constituir uma famí-lia para ter com quem alegrar seus solitários dias.
Acabara de ganhar significativa quantia na bolsa de valores com uma
acentuada subida nas ações de suas duas empresas, mas o dólar despencou assustadoramente em consequência do descrédi-to de seu país no mercado internacional
e aconteceu de queimar o termostato que graduava a temperatura ambiente da água de sua piscina interna... No findar de mais aquele rotineiro dia recolheu-se
cedo aos seus aposentos para meditar o quanto lhe custaria comprar um amor sincero e desinteressado e talvez uma boa dose de felicidade. Concluiu que
“essas coisas” não eram achadas facil-mente e que não havia dinheiro que pudesse comprá-las, mas iria tentar viajando disfarçado como cidadão comum da
classe média baixa, despido do estigma de um ricaço abastado.
Comunicou aos Diretores subalternos de suas indústrias as “fé-rias
planejadas” e, dias adiante, barba crescida, trajando roupa modesta condizente com sua simulada categoria social e levando mala com o estritamente essencial,
avisou ao mordomo Charles so-bre sua decisão. Deixando mais de oito luxuosos automóveis em sua imensa garagem, lançou-se rumo ao desconhecido. Nada melhor
seria do que uma cidade distante onde não seria reconhecido. As-sim fez viajando de ônibus por três consecutivos e cansativos dias.
Chegado ao destino, procurou uma modesta pousada para hos-pedar-se,
registrando-se com o nome fictício de Olavo Soares Júni-or, vendedor itinerante. Sobre o balcão de atendimento, o recep-cionista jogou a chave de seu quarto
e murmurou entre dentes “boa estada”. Paradoxalmente sentiu-se contente em ser tratado como um ser comum, livre de falsas bajulações; era isso que ele queria
experimentar, sem avocar qualquer masoquismo nesse sen-timento.
À sua disposição havia uma substancial conta bancária da qual não pretendia
usá-la, impondo seus gastos essenciais a pouco mais de três salários mínimos mensais. Todas as manhãs dava umas vol-tas por quarteirões próximos à hospedaria
e podia conviver com todo tipo de pessoas: moradores de rua, mendigos, paupérrimos, pobres, remediados, classe média baixa, evitando os acima dessas camadas
sociais. Aprendeu bastante sobre a natureza humana na-quele variado “tête-à-tête” por esquinas e praças e surpreendeu-se que amiúde encontrava alguém com
um pouco de felicidade a despeito de suas necessidades para sobreviver. O morador de rua, por exemplo, ficava feliz em conseguir à noite uma marquise para
abrigá-lo e como amor fiel e desinteressado tinha seu cão, compa-nheiro de todas as horas. Quanto menos tinham, mais felizes e agradecidos sentiam-se
com o pouco recebido ou conquistado a du-ras penas. Ali estava o segredo da FELICIDADE! Por fim acabou des-cobrindo o grande busílis... De que lhe
valiam o iate de 80 pés, o helicóptero e o jatinho que o levavam a nenhures?
Faltava agora a AMIZADE SINCERA e/ou o AMOR verdadeiro e desinteressado.
Fizera camaradagem com a bela jovem, gentil, educada e atenciosa garçonete que lhe servia os almoços, sem nun-ca ter dado a ela um único centavo de gorjeta.
Vinte dias depois de hospedado, a sua cota de gastos chegara ao fim e teria que en-cerrar as contas. Confidenciou isso à Marcela e ela disse-lhe que morava
com a mãe já idosa e que tinha conseguido juntar um di-nheirinho, propondo-se a ajudá-lo! Aquele gesto iluminou-o de ad-miração e respeito por aquela moça.
Teria ele achado uma amiza-de sincera e quiçá, posteriormente, um amor verdadeiro?