Em Busca da Felicidade - 1ª Parte


Obs. Este Conto dividido está em várias partes.

(
1ª Parte)

       Dr. Wellington era um milionário bem sucedido, não obstante, vivia infeliz em sua suntuosa mansão. Por companhia tinha somen-te a criadagem que se limitava a obedecer suas ordens em troca de razoáveis salários. Lá fora havia uma porção de falsos amigos inte-ressados em obter seus favores, nada mais além disso. Viúvo preco-cemente e sem filhos, sentia a necessidade de constituir uma famí-lia para ter com quem alegrar seus solitários dias.

       Acabara de ganhar significativa quantia na bolsa de valores com uma acentuada subida nas ações de suas duas empresas, mas o dólar despencou assustadoramente em consequência do descrédi-to de seu país no mercado internacional e aconteceu de queimar o termostato que graduava a temperatura ambiente da água de sua piscina interna... No findar de mais aquele rotineiro dia recolheu-se cedo aos seus aposentos para meditar o quanto lhe custaria comprar um amor sincero e desinteressado e talvez uma boa dose de felicidade. Concluiu que “essas coisas” não eram achadas facil-mente e que não havia dinheiro que pudesse comprá-las, mas iria tentar viajando disfarçado como cidadão comum da classe média baixa, despido do estigma de um ricaço abastado.

       Comunicou aos Diretores subalternos de suas indústrias as “fé-rias planejadas” e, dias adiante, barba crescida, trajando roupa modesta condizente com sua simulada categoria social e levando mala com o estritamente essencial, avisou ao mordomo Charles so-bre sua decisão. Deixando mais de oito luxuosos automóveis em sua imensa garagem, lançou-se rumo ao desconhecido. Nada melhor seria do que uma cidade distante onde não seria reconhecido. As-sim fez viajando de ônibus por três consecutivos e cansativos dias.

       Chegado ao destino, procurou uma modesta pousada para hos-pedar-se, registrando-se com o nome fictício de Olavo Soares Júni-or, vendedor itinerante. Sobre o balcão de atendimento, o recep-cionista jogou a chave de seu quarto e murmurou entre dentes “boa estada”. Paradoxalmente sentiu-se contente em ser tratado como um ser comum, livre de falsas bajulações; era isso que ele queria experimentar, sem avocar qualquer masoquismo nesse sen-timento.

       À sua disposição havia uma substancial conta bancária da qual não pretendia usá-la, impondo seus gastos essenciais a pouco mais de três salários mínimos mensais. Todas as manhãs dava umas vol-tas por quarteirões próximos à hospedaria e podia conviver com todo tipo de pessoas: moradores de rua, mendigos, paupérrimos, pobres, remediados, classe média baixa, evitando os acima dessas camadas sociais. Aprendeu bastante sobre a natureza humana na-quele variado “tête-à-tête” por esquinas e praças e surpreendeu-se que amiúde encontrava alguém com um pouco de felicidade a despeito de suas necessidades para sobreviver. O morador de rua, por exemplo, ficava feliz em conseguir à noite uma marquise para abrigá-lo e como amor fiel e desinteressado tinha seu cão, compa-nheiro de todas as horas. Quanto menos tinham, mais felizes e agradecidos sentiam-se com o pouco recebido ou conquistado a du-ras penas. Ali estava o segredo da FELICIDADE! Por fim acabou des-cobrindo o grande busílis... De que lhe valiam o iate de 80 pés, o helicóptero e o jatinho que o levavam a nenhures?

       Faltava agora a AMIZADE SINCERA e/ou o AMOR verdadeiro e desinteressado. Fizera camaradagem com a bela jovem, gentil, educada e atenciosa garçonete que lhe servia os almoços, sem nun-ca ter dado a ela um único centavo de gorjeta. Vinte dias depois de hospedado, a sua cota de gastos chegara ao fim e teria que en-cerrar as contas. Confidenciou isso à Marcela e ela disse-lhe que morava com a mãe já idosa e que tinha conseguido juntar um di-nheirinho, propondo-se a ajudá-lo! Aquele gesto iluminou-o de ad-miração e respeito por aquela moça. Teria ele achado uma amiza-de sincera e quiçá, posteriormente, um amor verdadeiro?

FIM DA PRIMEIRA PARTE

Ary Franco
(O Poeta Descalço)

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