Meu sol é a lua. Troco o dia pela noite.
Na penumbra enfumaçada do bas-fond de uma boate de se-gunda categoria onde ela “trabalha”, passo as madrugadas debru-çado no balcão, degustando
petiscos alternados com goles de Vodka. Cabelos bem penteados, bigode fino, terno escuro com co-lete, sapato em duas cores, calça boquinha, gravata de seda italia-na com
o nó displicentemente afrouxado, compõem a vestimenta característica de um gigolô. De longe e de soslaio observo, enciu-mado, cada uma de suas idas e vindas com
parceiros alternados.
Numa relação comprada e paga
Ela passou a ser a minha amada.
Jamais acreditou no meu amor,
Vê em mim apenas seu protetor.
Como lutador de artes marciais, meu trabalho é facilitado quando necessário se faz
aplacar a sanha de algum engraçadinho, por maus tratos ou querer reaver o pagamento adiantado pelo coi-to contratado. Invariavelmente, por precaução, ela frequenta um
prostíbulo próximo e numa emergência, dissimuladamente, do ba-nheiro, liga seu celular requisitando “meus eventuais serviços”.
Habitamos sob o mesmo teto.
No leito trocamos nossos afetos.
Mas sinto a dor da minha paixão
Ter em troca apenas compaixão.
E assim vou amargando meus dias, contendo o que morre emu-decido em meu peito,
disfarçando meus prantos em falsos sorrisos, rastejando para que ela se sinta mais alta que eu... Tudo pelo pri-vilégio de poder manter ao meu lado minha amada
prostituta.