A Debutante (Conto Poético)




Sento-me no banco da praça.
A tarde se despede insinuando o escurecer.
À minha frente o chafariz jorra
gotas d’água, coloridas e dançantes.
Um bem-te-vi vem matar sua sede,
antes de se recolher noite adentro.
Fecho os olhos e sonho acordado,
lembrando aquele baile de quinze anos.
Era ela um botão desabrochando em flor.
Primeira valsa dançou com o pai.
A segunda e subsequentes couberam a mim
a sensação indizível de tê-la em meus braços.
Leve como uma pluma, conduzi-a
sobre nuvens rodopiando pelo salão.
Sinto o olor inebriante de seus cabelos,
contemplo o brilhar de sua felicidade
desenhado em seu angelical sorriso.
Instintivamente colamos nossos rostos
como que num só movimento, imantados!
Aquela noite, aquele momento,
aqueles minutos, quisera eu eternizá-los,
mas o baile acabou, a orquestra calou-se,
um dia o romance terminou...
Não foi meu primeiro amor, nem foi o último,
até que o verdadeiro, aquele que falou
mais alto, chegou e ficou até hoje...

Senti alguém sentar no banco ao meu lado.
Era um casal de namorados abraçados.
Convenientemente levantei-me, dei mais uma volta
no cachecol e rasgando o frio da
noite voltei pra casa, voltei para minha
velha, meu derradeiro e eterno amor!

Ary Franco
(O Poeta Descalço)




Fundo Musical: Fascinação - Andre Rieu
 

 
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