Sento-me no banco da praça. A tarde se despede insinuando o escurecer. À minha frente o chafariz jorra
gotas d’água, coloridas e dançantes. Um bem-te-vi vem matar sua sede, antes de se recolher noite adentro. Fecho os olhos e sonho acordado,
lembrando aquele baile de quinze anos. Era ela um botão desabrochando em flor. Primeira valsa dançou com o pai. A segunda e subsequentes couberam a mim
a sensação indizível de tê-la em meus braços. Leve como uma pluma, conduzi-a sobre nuvens rodopiando pelo salão. Sinto o olor inebriante de seus cabelos,
contemplo o brilhar de sua felicidade desenhado em seu angelical sorriso. Instintivamente colamos nossos rostos como que num só movimento, imantados!
Aquela noite, aquele momento, aqueles minutos, quisera eu eternizá-los, mas o baile acabou, a orquestra calou-se, um dia o romance terminou...
Não foi meu primeiro amor, nem foi o último, até que o verdadeiro, aquele que falou mais alto, chegou e ficou até hoje...
Senti alguém sentar no banco ao meu lado. Era um casal de namorados abraçados.
Convenientemente levantei-me, dei mais uma volta no cachecol e rasgando o frio da noite voltei pra casa, voltei para minha
velha, meu derradeiro e eterno amor!
Ary Franco (O Poeta Descalço)
Fundo Musical: Fascinação - Andre Rieu
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