O Quarto Rei Mago
 
 

Recebi em 05/01/2010

 
Colaboração da Poetisa e amiga Schyrlei Pinheiro

O Quarto Rei Mago

Uma história de Henry Van Dyke

Vocês sabem a história dos três reis magos que viajaram do Oriente para Belém para adorar a Jesus e lhe ofertar as dádivas de ouro, incenso e mirra.

 

Vou-lhes contar a história do quarto rei mago que também viu a estrela e resolveu segui-la e do seu grande desejo de adorar o Rei Menino e lhe oferecer as suas prendas.

 

Ele morava nas montanhas da Pérsia e o seu nome era Artaban.

 

Era um médico, alto, moreno, de olhos bem escuros: a fisionomia de um sonhador, a mente de um sábio.
 

Um homem de coração manso e espírito indominável.

 

Era um homem de posses.
 

A sua moradia era rodeada de jardins bem tratados com árvores de frutas e flores exóticas.
 

Suas vestes eram de seda fina e o seu manto da mais pura lã.

 

Era seguidor de Zoroastro e numa noite se reuniu em conselho com nove membros da mesma seita.
 

Eram todos sábios!

 

Artaban lhes falou sobre a nova estrela que vira e o seu desejo de segui-la.
 

Disse-lhes:

 

"- Como seguidores de Zoroastro aprendemos que os homens vão ver nos céus, em tempo apontado pelo Eterno, a luz de uma nova estrela e nesse dia, nascerá um grande profeta e Ele dará aos homens a vida eterna, incorruptível e imortal, e os mortos viverão outra vez!
 

Ele será o Messias, o Rei de Israel.

 

E continuou:

 

"- Os meus três amigos Gaspar, Melchior, Baltazar e eu, vimos a grande luz brilhante de uma nova estrela á vários dias e vamos sair juntos para Jerusalém para ver e adorar o Prometido, o Rei de Israel.
 

Vendi a minha casa e tudo o que possuo e comprei estas jóias: uma safira, um rubi e uma pérola para oferecer como tributo ao Rei.
 

Convido-os para virem comigo nesta peregrinação para juntos adorarmos o rei!”

 

Mas um véu de dúvida cobriu as faces de seus amigos:

 

"- Artaban! Isso é um sonho em vão. Nenhum rei vai nascer de Israel! Quem acredita nisso é um sonhador!"

 

E um a um, todos o deixaram.

 

"- Adeus amigo!"

 

Artaban pesquisando os céus viu de novo a estrela.

 

"- É o sinal!" Disse ele. "- O Rei vai chegar e eu vou encontrá-lo."

 

Artaban preparou o seu melhor cavalo, chamado Vasda, e de madrugada saiu ás pressas, pois, para encontrar no dia marcado com Gaspar, Melchior e Baltazar, que já estavam a caminho, ele precisava cavalgar noite e dia.
 

Já estava escurecendo e ainda faltavam mais ou menos três horas de viagem para chegar ao sítio de encontro e ele precisava estar lá antes de meia noite ou os três magos não poderiam demorar mais à sua espera!

 

“- Mas, o que é isto?”

 

Na estrada, perto de umas palmeiras, o seu cavalo Vasda, pressentindo alguma coisa desconhecida, parou resfolegando, junto a um objeto escuro perto da última palmeira.

 

Artaban desmontou.
 

A luz das estrelas revelou a forma de um homem caído na estrada.
 

Um pobre hebreu entre os muitos que moravam por perto.
 

A sua pele estava seca e amarela e o frio da morte já o envolvia.
 

Artaban depois de examiná-lo, deu-o por morto e voltou-se com um coração triste pois nada podia fazer pelo pobre homem.

 

“- Mas o que foi isto?”

 

"- Que devo fazer?
 

Se me demorar, os meus amigos procederão sem mim.
 

Preciso seguir a estrela!
 

Não posso perder a oportunidade de ver o Príncipe da Paz só para parar e dar um pouco de água a um pobre hebreu nas garras da morte!"

 

"- Deus da Verdade e da Pureza, dirige-me no teu caminho santo, o caminho da sabedoria que só tu conheces!"

 

E Artaban carregou o hebreu para a sombra de uma palmeira e tratou-o por muitos dias até que ele se recuperou.

 

"- Quem és tu?" perguntou ele ao mago.

 

"- Sou Artaban e vou a Jerusalém à procura daquele que vai nascer: O Príncipe da Paz e Salvador de todos os homens.
 

Não posso me demorar mais, mas aqui está o restante do que tenho: pão, vinho, e ervas curativas."

 

O hebreu erguendo as mãos aos céus lhe disse:

 

"- Que o Deus de Abraão, Isaac e Jacó o abençoe; nada tenho para lhe pagar, mas ouça-me: Os nossos profetas dizem que o Messias deve nascer, não em Jerusalém mas em Belém de Judá."

 

Assim, já era muito mais de meia noite e vários dias mais tarde quando Artaban montou de novo o seu cavalo Vasda e num galope rápido prosseguiu ao encontro de seus amigos.

 

Aos primeiros raios do sol, checou ao lugar do encontro.
 

Mas... onde estavam os três magos?
 

Artaban desmontou e ansioso, estudou todo o horizonte.
 

Nem sinal da caravana de camelos dos seus amigos!
 

Então entre uma pilha de pedras achou um pergaminho e a mensagem:

 

"- Não pudemos esperar mais, vamos ao encontro do Rei de Israel.
 

Siga-nos através do deserto."

 

Artaban sentou-se e cobriu a cabeça em desespero!

 

"- Como posso atravessar o deserto sem ter o que comer e com um cavalo cansado?
 

Tenho mesmo que regressar à Babilônia, vender a minha safira e comprar camelos e provisões para a viagem.
 

Só Deus, o misericordioso, sabe se vou encontrar o Rei de Israel ou não, porque me demorei tanto ao mostrar caridade,"

 

Artaban continuou a via pelo deserto e finalmente chegou em Belém, levando o seu rubi e a sua pérola para oferecer ao Rei.
 

Mas as ruas da pequena vila, pareciam desertas.
 

Pela porta aberta de uma casinha pobre, Artaban ouviu a voz de uma mulher cantando suavemente.
 

Entrou e encontrou uma jovem mãe acalentando o seu bebe.

 

Três dias passados Ela lhe falou sobre os três magos que estiveram na vila a que disseram terem sido guiados por uma estrela ao lugar onde José de Nazaré, sua esposa Maria, e o seu bebe Jesus estavam hospedados.
 

Eles trouxeram prendas de ouro, incenso e mirra para o menino.
 

Depois, desapareceram tão rapidamente quanto apareceram.
 

E a família de Nazaré também saiu à noite, em segredo, talvez para o Egito.

 

O bebê nos seus braços olhou para o rosto de Artaban e sorriu estendendo os braçinhos para ele.

 

“Não poderia essa criança, ser o Príncipe Prometido?
 

Mas não!
 

Aquele que procuro já não está aqui e eu preciso encontrá-lo no Egito!”

 

A Jovem mãe colocou o bebê no leito e preparou um almoço para o estranho hospede que veio à sua casa.
 

Subitamente, ouviu-se uma grande comoção nas ruas: gritos de dor, o chorar de mulheres, tocar de trombetas e o clamor:

 

"- Soldados! Os soldados de Herodes estão matando as nossas crianças!"

 

A jovem mãe, branca de terror escondeu-se no canto mais escuro da casa, cobrindo o filho com o seu manto para que ele não acordasse e chorasse.

 

Mas Artaban colocou-se em frente à porta da casa impedindo a entrada dos soldados.
 

Um capitão aproximou-se para afastá-lo.
 

A face de Artaban estava calma como se estivesse observando as estrelas.
 

Fitou o soldado um instante e lhe disse:

 

"- Estou sozinho aqui, esperando para dar esta joia ao prudente capitão que vai me deixar em paz.”

 

E mostrou o rubi brilhando na palma da sua mão como uma grande gota de sangue.

 

Os olhos do capitão brilharam com o desejo de possuir tal joia!

 

"- Marchem, Avante!" Gritou aos seus soldados. "- Não há criança aqui!"

 

E Artaban olhando os céus orou:

 

"- Deus da Verdade, perdoa o meu pecado!
 

Eu disse uma coisa que não era, para salvar uma criança.
 

E duas das minhas dádivas já se foram.
 

Dei aos homens o que havia reservado para Deus.
 

Poderei ainda ser digno de ver a face do Rei?"

 

E Artaban prosseguiu na sua procura entre as pirâmides do Egito, em Heliopólis, na nova Babilônia às margens do Nilo...
 

Numa humilde casa em Alexandria, Artaban procurou o conselho de um velho rabi que lhe falou das profecias e do sofrimento do Messias prometido e rejeitado pelos homens.

 

"- E lembre-se, meu filho: o Rei que procuras não o vais encontrar num palácio ou entre os ricos e poderosos.
 

Isto eu sei: os que O procuram devem fazê-lo entre os pobres e os humildes, os que sofrem e são oprimidos."

 

E Artaban passou por lugares onde a fome era grande.
 

Fez a sua morada em cidades onde os doentes morriam na miséria.
 

Visitou os oprimidos nas prisões subterrâneas, os escravos nos mercados de escravos...

 

Em toda a população de um mundo cheio de angústia ele não achou ninguém para adorar, mas muitos para ajudar!
 

Ele alimentou os que tinham fome, cuidou dos doentes, e confortou os prisioneiros...
 

E os anos passaram... 33 anos.

 

E os cabelos de Artaban já não eram pretos, eram brancos como a neve nas montanhas.
 

Velho, cansado e pronto para morrer era ainda um peregrino à procura do Rei de Israel e agora em Jerusalém onde havia estado muitas vezes na esperança de achar a família de Belém.

 

Os filhos de Israel estavam agora na cidade santa para a festa da Páscoa do Senhor e havia uma agitação e excitamento singular.
 

Vendo um grupo de pessoas da sua terra, Artaban lhes perguntou o que se passava e para onde o povo se dirigia.

 

"- Para o Gólgota!" lhe responderam, "- ...pois não ouviste?
 

Dois ladrões vão ser crucificados e com eles, um homem chamado Jesus de Nazaré, que dizem, fez coisas maravilhosas entre o povo.
 

Mas os sacerdotes exigiram a Sua morte, porque disse ser o Filho de Deus.
 

Pilatos O condenou a ser crucificado porque disseram ser Ele o Rei dos Judeus.”

 

"Os caminhos de Deus são mais estranhos do que o pensamento dos homens," pensou Artaban.
 

"Agora é o tempo de oferecer a minha pérola para livrar da morte o meu Rei!"

 

Ao seguir a multidão em direção ao portal de Damasco, um grupo de soldados apareceu arrastando uma jovem rapariga com vestes rasgadas e o rosto cheio de terror.

 

Ao ver o mago, a jovem reconheceu-o como da sua própria terra e libertando se dos guardas atirou-se aos pés de Artaban:

 

"- Tenha piedade!...”, ela implorou,..."e pelo Deus da pureza, salva-me!
 

Meu pai era mercador na Pérsia mas faleceu e agora vão me vender como escrava para pagar seus débitos!
 

Salva-me!"

 

Artaban tremeu.
 

Era o velho conflito da sua alma entre a fé, a esperança e o impulso do amor.
 

Duas vezes as dádivas consagradas foram dadas para a humanidade.
 

E agora?
 

Uma coisa ele sabia:

 

“- Salvar essa jovem indefesa era um gesto de amor. E não é o amor a luz da alma?”

 

Ele tirou a pérola de junto ao seu coração.
 

Nunca ela pareceu tão luminosa!
 

Colocou-a na mão da moça:

 

"- Este é o teu pagamento, o último dos tesouros que guardei para o Rei!"

 

Enquanto ele falava uma escuridão profunda envolveu a terra que tremeu consultivamente!
 

Casas caíram, os soldados fugiram mas Artaban e a moça protegeram-se de baixo do telhado sobre as muralhas do Pretório.

 

"- O que tenho a temer,” pensou ele, " ...e para quê viver?
 

Não há mais esperança de encontrar o Rei, a procura terminou, eu falhei.”

 

Mas mesmo esse pensamento lhe trouxe paz pois sabia que viveu dia a dia da melhor maneira que soube.
 

Se tivesse que viver de novo a sua vida não poderia ser de outra maneira.

 

Mais um tremor de terra e uma telha desprendeu-se do telhado e feriu o velho Mago Artaban na cabeça.
 

Repousou no chão e deitou a cabeça nos ombros da jovem com o sangue a escorrer do ferimento.

 

Nesse momento, Artaban ouviu uma voz que lhe sussurrava:

 

- Artaban - Eis-me aqui!
 

Eu sou Jesus!
 

- Obrigado por ter me servido, me dado de comer, de beber, e me ajudado quando enfermo nas prisões desta vida...

 

Os lábios de Artaban moveram-se como em resposta e a jovem escutou o que o velho mago disse na sua própria língua:

 

- Não meu Senhor!
 

Quando foi que te vi com fome e te dei de comer?
 

Ou com sede e te dei de beber?
 

Ou quando te vi enfermo ou na prisão e fui te ver?
 

Por 33 anos eu te procurei, mas nunca vi a tua face, nem te servi, meu Rei!"

 

E uma voz suave veio, mas desta vez dos céus.
 

A jovem também compreendeu as palavras.

 

"- Em verdade, em verdade vos digo que quando o fizeste a um destes meus irmãos a mim o fizeste!"

 

Uma alegria radiante iluminou a face calma de Artaban.

 

Um suspiro longo e aliviado saiu de seus lábios.

 

A viagem para ele havia terminado.

 

O quarto mago, Artaban, compreendeu que havia encontrado o seu Rei durante toda a sua vida!

Essa história é contada em um filme emocionante com Martin Sheen, cujo título é:
"O Quarto Sábio" . <adapt. por Zeca Feliz>
 

 
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