Dona Maria Redonda nos fez um relato sobre a origem de seu no-me.
Nossa querida preta velha nos contou que,
ao contrário do que todos acham,
ela não era gorda,
e
sim alta e magra.
Seu apelido vem de outra característica, ou melhor, de uma es-tória.
Dona Maria Redonda era a parteira
do grupo no qual vivia, e também a pessoa
encarregada de cuidar dos filhos dos escravos enquanto eles estavam na lida.
Passou sua vida criando estas crianças,
e por ter
esta responsabili-dade
foi
poupada dos trabalhos escravos
impostos aos negros na época.
Por ter de que cuidar de muitas crianças, costumava colocá-las em um círculo
para conversar e brincar com elas.
Certa vez, na intenção de dar-lhes esperança diante do que elas e seus pais
estavam vivendo, Dona Maria Redonda disse às crianças:
“Filhos,
peguem nos seus calcanhares,
vejam como eles são re-dondos!
Peguem em suas cabeças,
elas também são redondas!
Nossas barrigas,
e até nossas bundas são redondas!!”
- e as crian-ças deram risada.
“Olhem para o céu,
o sol e a lua são redondos!
Até mesmo os portugueses
estão dizendo que esta Terra onde vi-vemos é redonda.
Veja o que comemos,
quase tudo é redondo.
Agora, vejam,
as argolas que escravizam a nós e aos
pais de vocês também são redondas, mas estas
com certeza vão se desmanchar,
pois são as únicas que não foram criadas por nosso pai Oxalá!”
Com estas palavras, Dona Maria Redonda afagava os corações das crianças.
Agora sabemos de onde vem tanta doçura, e porque é tão bom deitar em seu
colo e receber seu agrado!
Perguntamos a ela se havia se casado, se tinha tido uma família.
Disse que as crianças eram sua família, assim como todos com quem vivia eram
como seus irmãos.
Os negros escravos tinham um sentido de irmandade muito dife-rente do que
temos hoje.
Tinham um sentimento de fraternidade, eram todos irmãos, uni-dos por sua
condição, independente de serem parentes de sangue ou não.
Dona Maria Redonda nos contou também que ela estava encarnada quando a
Abolição da Escravatura finalmente aconteceu.
Sobre isso comentou:
“Filha,
tive a sorte de viver para ver este dia.
Mas, na verdade, a gente nem sabia
o que fazer com a liberda-de...”
Salve nossa doce e querida Maria Redonda!!
Pub 2018