Entre gritos e sussurros


A saudade que eu sinto...
Embarga-me a voz
e eu sussurro:
quero sentir você,
sentir sua pele,
trocar meu cheiro
pelo seu,
seus dentes a tocar
os meus.

A saudade que eu sinto...
de você,
ajoelhado em oração...
fazendo-me separar as coxas
para que alcançasse,
obsceno,
o vértice que foi seu.

A saudade que eu sinto...
das gotas rubras
entre meus seios,
do cálice que lhe ofereci,
em mim.
Do vinho que bebi
em você!

A saudade que eu sinto...
dos nossos toques,
de nossa intimidade,
nossa liberdade,
nossos cheiros atraentes,
nossos gestos vagarosos,
apressados...
Nossa voz sussurrada,
gritada!

A saudade que eu sinto...
Leva-me aos ternos gemidos,
meu predador...
eu... sua presa.
Tal como o cajado de Marte,
ou o bastão de Netuno
devorados pela nascente,
encobertos por Vênus
agraciados pelo Sol,
entranhando, afundando,
pelas colunas do templo,
entre gritos e sussurros...

A saudade que eu sinto...
oferecendo e pedindo,
de nossas fontes bebendo...
de sua água,
seu suor,
seu suco,
oriundos do prazer,
do seu mastro!

A saudade que eu sinto...
É de você!


Sônia Maria J. Sogawa
Contagem - MG - Julho/2002



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