Moro nos escombros da cidade morta
Sou a Deusa "in black" das lamas e bueiros
Sou a jamais nascida, parida da noite
Sobrevivo com sete vidas a nunca vencida
Há punhais que rasgam minhas vestes e o ventre
Me defloram e arrancam minhas entranhas ardentes
Sou a Dama oferecida das ruelas e esquinas
Desabo temporal, explode vulcão e sou tesão
Sou dilúvio e tornado serpente do verbo encarnado
Não tenho família nem berço sem rosto me reconheço
Sou a vadia que nas noites se encontra e se desenha
Se entrega exaltada de suspiros aos andantes
E, entre pedras, cascalhos, esquinas e lama
Se estraçalha e vaza, deságua, devora e tece vida.
Sou mulher da noite, sou a jamais querida
Meu corpo é o caminho que dá a guarida.
Rose Sadalla
Rio de Janeiro - RJ - 14/01/2002