Me pedes das feições...
Contempla os traços
das vidas, cujo lar é uma calçada.
Caminhos, onde os sonhos são escassos,
aos quais o fado oferta o nada... Nada!
Encontra-me no
olhar do pequenino
privado de carinhos, de alimento;
na infância - filha de único destino:
um chão, sem sepultura, alma em tormento.
É minha a voz
pungente em elegia
às ilusões ceifadas pela guerra
(por quê pretendem vã toda agonia
da cruz, a suplicar por paz na terra?).
Meu rosto é
feito da pura energia,
criando as esperanças do amanhã;
é cheiro de pão quente e mão macia
que planta e colhe o fresco do hortelã.
Em mim repousa
o credo na igualdade
dos povos, pouco importam credo ou raça;
e a gratidão à eterna divindade
que a bichos, gente, plantas, tudo abraça.
Eu sou o verso
aceso, alma serena,
sou noite perfumada de jasmim;
mãe de toda Maria - ou Madalena...
Me pedes das feições... Eu sou assim!
Patrícia Neme
Fundo Musical: Nessum
Dorma |