Brincando com as Palavras


Vou brincando com as palavras
E vou soltando as minhas feras,
Chegando aonde ninguém espera,
Singrando os ares com minhas asas.

Estou onde não sou nesse registro
Que transborda sem que haja prova
Do meu ser, do meu haver sem norma,
Não sei se sou, se vou ou se fico.

Mistérios, incógnitas, não percepção
De mim, sou como o vento itinerante
Que chora, gene, uiva a todo instante,
Sou os brotos que brotam do coração.

Será isso uma inominável loucura
Desmedida que luta para preservar
O existir, aonde não se pode decifrar?
Ou sou a essência de uma alma pura?

Sou fagulha leve que vaga no espaço,
Gotas de chuva absorvidas pelo mar,
Busco um sentido para em algum lugar
Estar, encontrar-me e poder criar laços.

Sou o avesso do avesso, meu estranho,
Estranho que não sei onde encontrar,
Que eu desejo tanto, tanto desvendar,
Nem mesmo sei sua forma, seu tamanho.

Estou entre o nascer e o morrer,
Do começo ao fim, nesse percurso,
Acelero o coração e me agitam os pulsos,
Fui, passei, sem ninguém me perceber.

Entre o amor e o ódio, quanta ambivalência,
Rindo, gargalhando ou chorando, eu uivei
De dor, brotada das entranhas, eu revidei,
Brigando com a cultura e com a ciência.

Sou pulsão com força de um furacão,
Ninguém segura o meu ritmo no ar,
Sigo em frente sem me deixar manipular.
O que quero é ter em mim satisfação.

Sou inominável, inerte e informe,
Ninguém me amordaça, tenho raça,
Vou fugindo da perfídia e da trapaça.
Sinto-me pequena, às vezes, enorme.

Saio do EU, expandindo a consciência,
Assim, me encontro leve e muito solta,
Nas asas da imaginação estou envolta
Nesse mundo ilimitado, minha referência.

Olho-me em você e posso assim me ver
No seu olhar, muitas vezes a me julgar,
E, outras vezes, até, parecendo me amar.
Preciso lhe olhar para poder me perceber.

Você é você, eu sou eu, mas sem você
Não posso desejar ter prazer, viver,
Quantas vezes, em você, sinto-me derreter,
Com você me misturo, sendo um único ser.

Mistérios profundos, é o que somos nós,
Sujeitos do inconsciente a prevalecer
No “iceberg” que nem se pode perceber,
Buscando na verdade ter vez e voz.


Ninita Lucena
Natal - RN


 
 
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