Pobre menina


Aos seis anos, sob coação foste estuprada.
Tão cedo conheceste as maldades desta vida,
Por um monstro malvado foste deflorada,
Foste, criancinha pura, por ele tão ferida.

Cada vez que ele de ti se aproximava,
Cada vez que um carinho em ti fazia,
Teu corpo, tremendo, o repudiava,
Aqueles eram momentos de agonia.

Seguistes por anos, sem um lamento.
Guardaste para ti a honra maculada.
Mas não estava findo teu sofrimento,
Irias ficar muito mais machucada.

Aos nove anos, tiveste em teu ventre
Dois fetos, fruto do estupro de teu agressor.
São tantas coisas que tua alma sente...
Desesperança, solidão, tristeza e dor.

Para salvar tua vida, de dentro de ti tiraram
Duas frágeis e pequeninas sementes.
Os ignorantes, falsamente se indignaram,
Por ter sido preciso matar fetos inocentes.

O arcebispo de Olinda, com impiedade,
A tua mãe e a equipe médica condenou.
E, para frisar ainda mais sua maldade,
Com aberração, a todos excomungou.

Pobre menina, a Igreja não te deu conforto,
O clero hipócrita, como se fosse Deus aqui,
Condenou, rigidamente, esse aborto,
Sem ao menos pensar em ti.

Muriel E. T. N. Pokk
Poesia registrada em cartório
São Paulo - SP


 

 
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