
Primeira Prosa - Recebi em 29/10/2022 |


Nada me move de encontro a
nada, exceptuando o arcaico estático e fundamentalista, que, de vistas curtas e
temeroso, arroga-se a não reconhecer mais do que vá além de seu mundo, restrito
e predisposto, na ideia de que algo, a existir, não se concebe para ser mas para
manter-se.
Acredito que falta, hoje em
dia, um sentido pleno da Moral, do que é a Moral e de sua importância para o
Homem, para o seu dia a dia, no contacto directo com os demais.
De facto, ela (Moral) nem
precisaria de existir, como algo que de-vesse seguir-se, a fim de evitar a total
anarquia entre os ho-mens, se cada um de nós, soubesse esta verdade:
“a liberdade de um acaba
sempre onde a do outro começa”.
Que temos nós hoje, neste
nosso Mundo, se não uma mescla imensa de tribos, cada uma dizendo mal da outra,
por as últimas não seguirem as suas ideias, o seu ideal, do que deve ser o bem
viver e consequente felicidade, donde terá de sair forçosamente a
inevitabilidade que as mantenha e às suas crenças defensá-veis?
Como disse, nada me move de
encontro a nada, excepto o que não medra, por acomodatício e parco alimento,
fechado que está em vitral kantiano e nada pluralista, a modos que fosse como
que um portador exclusivo de um qualquer gnoma, imune ao membro de outras
espécies, possivelmente causadoras de danos irrepa-ráveis, de seu coto incestuoso
e fratricida.
Do mesmo modo é aplicável,
isto que digo, ao que tem medo de perder pé, tomando desde cedo por afronta tudo o que é
traço diferente e ousado, deixando-o de sobreaviso e renitente, sem-pre que se
lhe pede passo a dar.
Eis aqui, o cacógrafo e o
mal, instalados nas cercanias dos mui-tos quintais que estão proliferando por
esse Mundo afora.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 21/07/2004


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Segunda Prosa
- Recebi em 29/03/2023 |

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É surpreendente,
como a fotografia,
por mais que queiram ja-mais mente.
E numa curiosidade, que já se tornou
banal, a cada presença de um novo fotógrafo,
os meninos, que de meninos já nada
têm, aproximam-se do homem branco,
de traços endurecidos pela guerra,
sem um sorriso sequer, direcionam a óptica.
Em cada olhar, de uma destas crianças,
está sempre bem pre-sente, num silêncio
surdo, a morte de mais um inimigo,
às suas mãos, ou ao roubo de uma aldeia,
com todos os actos infames de violência
gratuita, onde se inclui, a violação, levada
aos extre-mos, e, que, apenas, julgávamos
possível, a um homem adulto.
Então, há um prazer, que fica gravado na
fotografia, nos olhos de escárnio, nos lábios,
ameaçando um desprezo, que não escon-dem,
enquanto a glória não os abandonar mortos,
numa poça de sangue, cobrindo toda a erva
à volta de seus pequenos corpos, recuperando,
finalmente, a inocência roubada, pelos
senhores da guerra, estes monstros impiedosos.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 28/06/2009

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Terceira Prosa - Recebi em 27/04/2023 |

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Eu sou um velho guardador de
sonhos
Minha alegria é um cajado
para guardar com cuidado
as tardes ao longe.
Meus sonhos não os idealizo
são como que feitos de puro granizo
e da sobra de cada um
moldo-os, um após um, a sonho nenhum.
Ah, triste, guardador de sonhos
para onde levas o teu rebanho,
não sabes que a alma e o cenho
estão na simplicidade das coisas?
Mas eu sou um velho guardador de sonhos
e o meu sonho é ser as flores
e o vento que passa...
e assim dividido, entre dois amores
ser o que passa sem olhar para trás.
Eu sou um velho pastor
circundam-me as coisas e coisas nenhumas...
Ao canto do olho sou o amor
e a palavra vincada às unhas,
sou as flores e as crianças
e coisas nenhumas.
Eu sou um velho guardador de sonhos
e o meu sonho é um cajado
para guardar com cuidado
os sonhos de cada um.
- Para onde vais, ó pastor?
Eu vou ser aquela flor
e o vento que passa
a criança e o amor.
Mas eu sou um velho guardador de sonhos.
E o meu sonho é um pião
Que gira até mais não,
Na mão de uma criança.
Mas eu sou só um velho guardador de sonhos,
E a minha alegria é ser as coisas
E coisas nenhumas
E o vento que passa
E as flores e as crianças.
Ah, como é bom sonhar,
sem que faça sentido haver sentido
sentido nas coisas!
Mas eu sou um velho pastor
e guardo com todo o cuidado
o amor que me é dado,
na ponta de um cajado...
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 22/12/2005

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Quarta Prosa
- Recebi em 29/06/2023 |

Todos sabemos que aos olhos
de uma criança
Qualquer flor se veste de esplendor, em
Suas múltiplas cores deixando-a encantada
Pela própria fragilidade, com que esta se deita,
Em suas pequeninas mãos.
E é tal a fascinação, que a traz para casa, para a pôr
Num copo com água, velando-a dia e noite;
Em certo receio, de que a florzinha, das outras
Sozinha, venha a perder para o sonho, que ela creu.
Não querendo esquecer sua amiga, pegando numa
das pétalas, caídas a seus pés, coloca-a a meio de uma
das folhas de seu livro preferido, para quando
Se deitar, antes de o fechar, a possa acariciar, com
Todo o carinho e amor: com seus deditos, tateando-a
Para que a sinta sempre bem próxima de si.
Na sua cabeça, ela não morreu nem nunca morrerá.
Mas de agora em diante, serviu-lhe a experiência, de
que toda a beleza do mundo e vida inerente é para
se ver e apreciar, evitando ao máximo o toque, ansiado.
E nisto, adormecendo de vez, sonha com jardins, entre
As demais. E animais e pessoas, vão na vida com seus
Filhos, lado a lado, numa perfeita harmonia… entre terra,
A água e o ar.
E, sorrindo, em seu sono tranquilo, vê como seus amigos
e amigas, acenando-lhe com uma bola na mão, a chamam
Para brincar, ao jogo da inocência.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal
- 01/06/2009

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Quinta Prosa
- Recebi em 29/06/2023 |

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Amigo, confidenciar se pode, sem receio algum.
E é assim, que se fomenta uma amizade e ao chão,
se lançam as novas sementes, perdurando tempo afora.
Porém, como uma flor acabada de nascer e de se abrir
para o mundo, sempre a palavra liberdade, terá de ser
um direito fun-damental, não podendo ser usada como
um boneco qualquer, pela afeição de duas pessoas,
para exigir, seja o que for, umas das outras, se assim não for, cedo ou tarde, a prisão de uma torna à outra.
Porque a liberdade, de uma pessoa, termina, onde começa
a liberdade da outra!
A liberdade serve para nos expressarmos, não para nos servir-mos
dela como arma de arremesso.
Dessa liberdade, que a todos
respeita, nasceu a possibilidade de falarmos de nós, sem
esquinas nem ouvidos duvidosos e de fazermos amigos, que
se identificam connosco, mas, a cada um, sua individualidade,
que dá pelo nome de: Liberdade.
Então: a cada canto, um amigo.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal
- 26/05/2009


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