Prosas do Poeta Jorge Humberto - Portugal

Poeta Jorge Humberto - Portugal

 O Poeta Jorge Humberto começou
a participar no Site em 01/02/2023 

 

Biografia do Poeta

5 Prosas publicadas até o momento

Publicadas em 2023



*Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com a antiga ortografia

 


Primeira Prosa - Recebi em 29/10/2022

Tipo Assim II


Nada me move de encontro a nada, exceptuando o arcaico estático e fundamentalista, que, de vistas curtas e temeroso, arroga-se a não reconhecer mais do que vá além de seu mundo, restrito e predisposto, na ideia de que algo, a existir, não se concebe para ser mas para manter-se.

Acredito que falta, hoje em dia, um sentido pleno da Moral, do que é a Moral e de sua importância para o Homem, para o seu dia a dia, no contacto directo com os demais.

De facto, ela (Moral) nem precisaria de existir, como algo que de-vesse seguir-se, a fim de evitar a total anarquia entre os ho-mens, se cada um de nós, soubesse esta verdade:

“a liberdade de um acaba sempre onde a do outro começa”.

Que temos nós hoje, neste nosso Mundo, se não uma mescla imensa de tribos, cada uma dizendo mal da outra, por as últimas não seguirem as suas ideias, o seu ideal, do que deve ser o bem viver e consequente felicidade, donde terá de sair forçosamente a inevitabilidade que as mantenha e às suas crenças defensá-veis?

Como disse, nada me move de encontro a nada, excepto o que não medra, por acomodatício e parco alimento, fechado que está em vitral kantiano e nada pluralista, a modos que fosse como que um portador exclusivo de um qualquer gnoma, imune ao membro de outras espécies, possivelmente causadoras de danos irrepa-ráveis, de seu coto incestuoso e fratricida.

Do mesmo modo é aplicável, isto que digo, ao que tem medo de perder pé, tomando desde cedo por afronta tudo o que é traço diferente e ousado, deixando-o de sobreaviso e renitente, sem-pre que se lhe pede passo a dar.

Eis aqui, o cacógrafo e o mal, instalados nas cercanias dos mui-tos quintais que estão proliferando por esse Mundo afora.

Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 21/07/2004


 

Segunda Prosa - Recebi em 29/03/2023

Foto Dos Meninos Da Guerra


 


É surpreendente, como a fotografia, por mais que queiram ja-mais mente.

E numa curiosidade, que já se tornou banal, a cada presença de um novo fotógrafo, os meninos, que de meninos já nada têm, aproximam-se do homem branco, de traços endurecidos pela guerra, sem um sorriso sequer, direcionam a óptica.

Em cada olhar, de uma destas crianças, está sempre bem pre-sente, num silêncio surdo, a morte de mais um inimigo, às suas mãos, ou ao roubo de uma aldeia, com todos os actos infames de violência gratuita, onde se inclui, a violação, levada aos extre-mos, e, que, apenas, julgávamos possível, a um homem adulto.

Então, há um prazer, que fica gravado na fotografia, nos olhos de escárnio, nos lábios, ameaçando um desprezo, que não escon-dem, enquanto a glória não os abandonar mortos, numa poça de sangue, cobrindo toda a erva à volta de seus pequenos corpos, recuperando, finalmente, a inocência roubada, pelos senhores da guerra, estes monstros impiedosos.

Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 28/06/2009

Terceira Prosa - Recebi em 27/04/2023

O Guardador De Sonhos (a Pessoa)


 

Eu sou um velho guardador de sonhos
Minha alegria é um cajado
para guardar com cuidado
as tardes ao longe.

Meus sonhos não os idealizo
são como que feitos de puro granizo
e da sobra de cada um
moldo-os, um após um, a sonho nenhum.

Ah, triste, guardador de sonhos
para onde levas o teu rebanho,
não sabes que a alma e o cenho
estão na simplicidade das coisas?

Mas eu sou um velho guardador de sonhos
e o meu sonho é ser as flores
e o vento que passa...
e assim dividido, entre dois amores
ser o que passa sem olhar para trás.

Eu sou um velho pastor
circundam-me as coisas e coisas nenhumas...
Ao canto do olho sou o amor
e a palavra vincada às unhas,
sou as flores e as crianças
e coisas nenhumas.

Eu sou um velho guardador de sonhos
e o meu sonho é um cajado
para guardar com cuidado
os sonhos de cada um.

- Para onde vais, ó pastor?
Eu vou ser aquela flor
e o vento que passa
a criança e o amor.

Mas eu sou um velho guardador de sonhos.
E o meu sonho é um pião
Que gira até mais não,
Na mão de uma criança.

Mas eu sou só um velho guardador de sonhos,
E a minha alegria é ser as coisas
E coisas nenhumas
E o vento que passa
E as flores e as crianças.

Ah, como é bom sonhar,
sem que faça sentido haver sentido
sentido nas coisas!

Mas eu sou um velho pastor
e guardo com todo o cuidado
o amor que me é dado,
na ponta de um cajado...

Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 22/12/2005

Quarta Prosa - Recebi em 29/06/2023

A Criança De A Flor


 

Todos sabemos que aos olhos de uma criança
Qualquer flor se veste de esplendor, em
Suas múltiplas cores deixando-a encantada
Pela própria fragilidade, com que esta se deita,
Em suas pequeninas mãos.

E é tal a fascinação, que a traz para casa, para a pôr
Num copo com água, velando-a dia e noite;
Em certo receio, de que a florzinha, das outras
Sozinha, venha a perder para o sonho, que ela creu.

Não querendo esquecer sua amiga, pegando numa
das pétalas, caídas a seus pés, coloca-a a meio de uma
das folhas de seu livro preferido, para quando
Se deitar, antes de o fechar, a possa acariciar, com
Todo o carinho e amor: com seus deditos, tateando-a
Para que a sinta sempre bem próxima de si.
Na sua cabeça, ela não morreu nem nunca morrerá.

Mas de agora em diante, serviu-lhe a experiência, de
que toda a beleza do mundo e vida inerente é para
se ver e apreciar, evitando ao máximo o toque, ansiado.

E nisto, adormecendo de vez, sonha com jardins, entre
As demais. E animais e pessoas, vão na vida com seus
Filhos, lado a lado, numa perfeita harmonia… entre terra,
A água e o ar.

E, sorrindo, em seu sono tranquilo, vê como seus amigos
e amigas, acenando-lhe com uma bola na mão, a chamam
Para brincar, ao jogo da inocência.

Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 01/06/2009



Quinta Prosa - Recebi em 29/06/2023

À Liberdade O Que é Da Liberdade - Prosa Reflexão


 

Amigo, confidenciar se pode, sem receio algum.

E é assim, que se fomenta uma amizade e ao chão, se lançam as novas sementes, perdurando tempo afora.

Porém, como uma flor acabada de nascer e de se abrir para o mundo, sempre a palavra liberdade, terá de ser um direito fun-damental, não podendo ser usada como um boneco qualquer, pela afeição de duas pessoas, para exigir, seja o que for, umas das outras, se assim não for, cedo ou tarde, a prisão de uma torna à outra.

Porque a liberdade, de uma pessoa, termina, onde começa a liberdade da outra!

A liberdade serve para nos expressarmos, não para nos servir-mos dela como arma de arremesso.

Dessa liberdade, que a todos respeita, nasceu a possibilidade de falarmos de nós, sem esquinas nem ouvidos duvidosos e de fazermos amigos, que se identificam connosco, mas, a cada um, sua individualidade, que dá pelo nome de: Liberdade.

Então: a cada canto, um amigo.

Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 26/05/2009