Povoam-nos a cabeça
de sonhos,
atiram-nos amizades
como côdeas de pão,
logo que avisados – rédea curta -
somos um mero pião,
que gira à medida que nos entalham
caixões de madeira,
cruzes e religiões que nos
emudecem,
somos postos num campo subalterno,
que bem assim já fartos
de tanta euforia,
como que debruam nossas
vidas – de Nada!
Lúgubres amigos.
Sonegam-nos a alegria,
e como o vento se vão
pelas frestas
das janelas e das portas
interiores e exteriores,
(qual dos mundos mais necessários
aqui,
será pois esse o escolhido
por eles – ofendido já).
Ofendidos e desgastados
somos lançados borda fora, agem
como animais
moribundos sem feltro
para separar o bem do mal,
e quanto mais nos
debatemos mais nos pisam os
cabelos da testa,
que atesta que a água da areia
já perdeu o pé,
e assim seremos esquecidos:
os afogados, que, coitados,
envelheceram
doentes demais,
para que nos voltem a reconhecer!
Agora, nós crescidos e vacinados,
agradecemos sermos arte,
que sem vós,
amigos poetas, seríamos
meros espectadores -
vão-se, por favor!
com as muitas glórias
conquistadas – tidas ou idas -
no desbastarem caminhos
por nós,
mas aceitem o olvido:
a provocação
é não nos assemelharem a vós!
A traição é só para quem se sente
traído,
pelo respeito
que lhe é devido!
Nós somos apenas filhos e amigos do acomodatício!
Joguinho do esconde-esconde,
com os amiguinhos de
ocasião, semelhantes no propósito,
logotipo caseiro
e artefactos castrados na parede,
tendes somente uma coisa que os difere
dos bons,
sois os que sempre metem à verdade.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal
- 10/10/2024
*Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com
a antiga ortografia.