Cada gesto fica com quem o pratica.
Coisas como a amizade ou a partilha,
se viram obrigação, saturação, implica
que a nossa integridade é já uma ilha,
a ser defendida p’lo nome que a justifica.
Sempre criei bem-estar, como quem dedilha
as cordas d’uma guitarra, e a paz mistifica
o que deve crescer: respeitando a “matilha”.
Chega de ver um homem bater nos filhos
porque todo ele se sente desafiado
por aqueles a quem ele só vê pecadilhos
e esmurrando-os os ensina a ser olvidado.
Pobres animais, esses sim, também,
que quais esfinges, quando a besta enfurece,
arregalam os olhos, a ver o que dela advém,
porque sabem bem que sua vista escurece.
Mas, no fundo, nem é ele que é má pessoa,
são os seus medos de ficar só, sua insegurança,
que faz com que seja outra a voz que mais ressoa,
tratando-o como sem valor: será herança?
Dia após dia lhe encheram a cabeça, (obscenidades,
mentiras), até ver o amigo sentir-se humilhado.
Tudo que era - e era bom – virou lugubridades;
e a partir daí o gesto, era trazer-me mal julgado.
O amigo, deixou de ser convidado para jantar,
ou no fim da janta, sem talheres, restos lhe serviam -
embora a culpa tenha sido minha, no mal julgar,
quando engoli as desfeitas: meus olhos que anteviam.
A mulher de calças tornou-se impiedosa, pueril,
embora recorresse a mim para lavar a roupa suja:
sim, que por sujo me tomou, vai de garrafa e funil,
o papel de mãe, ao qual ela brinca, e até muja.
Das crianças é de quem vou sentir mais a falta.
Ah, pobrezinhas, que lhes fizeram a cabeça e as sentenças!
Gosto muito de “reinar” com esta nova malta.
Espero que não necessitem de andar e abusar das avenças.
Irei sentir a falta de muita coisa, e não esqueço
quando e quanto foram bons para mim, enquanto durou.
Quem mal instigou saiba: que isto ou parecido eu não o mereço.
Mas, no fim, reconheço, no me ter tardado é que pecou.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal
- 22/04/2025

*Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com
a antiga ortografia. |