Citação inicial do manuscrito de um discurso que fez sobre Rui Barbosa.
MEU PAI...A
PRESENÇA CONSTANTE
Gui
Oliva
Foram
poucos anos que eu vivi com ele,
apenas até os
meus juvenis treze,
mas foram tão
intensos, tão profundos
e parece que,
vivendo, descobri o mundo.
Era alto,
esbelto e elegante
trajando
sempre o seu talhado terno,
camisas brancas, gravata combinando,
assim se
despedia de nós e ia para o trabalho.
A religiosidade era na vida a seta que indicava
a nós, seus
filhos, os passos a trilhar,
a
fraternidade e o respeito ao próximo,
esses os
princípios que o seu viver pautava.
Era severo e
nos cobrava, com rigor,
empenho nos
estudos,
pois definia
como a melhor herança a deixar
aquela
forjada no esforço próprio como escudo.
Venceu na
vida assim, com o trabalho duro,
arrimo de
família completou apenas o primário,
mas nem por
isso abandonou o gosto da leitura,
autodidata
escreveu um livro, plantou árvores
e formou,
até quando pôde, os filhos.
Era um poeta
e versejou seus versos
cantando a
sua terra, seu amor
à
mulher-amada, amante e companheira-,
a
dedicação aos filhos sempre em nexo
com seu
fervor cristão, e o amor à natureza.
Amante da boa
música ele se transmudava
quando à
noitinha, chegando em casa,
depois do
jantar, em torno da mesa,
reunia os
filhos formando a bandinha.
Um era o
clarinete
revezando-se
como violonista,
outro o
flautista,
eu a
pianista, ele o bombardão,
e no
intervalo da orquestração
soltava o
chiste para a cantora:
"essa
austríaca desafina mais
do que
inhambu na cria"
e todo mundo
ria...era só folia...
Suas viagens,
de todo fim de semana,
nos levavam e
conduziam à magia
do trem
madrugador da Sorocabana,
para Itanhaém
sua terra, sua esperança,
E lá
então voltava a ser criança,
e eu o
acompanhava em toda romaria -
fieira de
peixe-galo, marisco e ostra lá na ilha,
ou bagre,
canoa rio acima - essa a pescaria.
Depois do
almoço...peixe frito,
no
fogão à lenha,
degustado e acompanhado da manema,
era no
quintal a nossa lida,
recolher
folhas secas, arrancar tiriricas
até à exaustão...e fim da tarde
todo o
entulho juntado num montinho
ardia o fogueirão, estava escrito,
fazer fumaça
pra espantar mosquito.
Ah! para
versejar meu pai
preciso escrever além da conta,
pelo tanto
que a presença dele
faltou e faz
falta em mim,
Num sopro
momentâneo ele partiu
assim, como
um passarinho
alçando
voo livre,
mas sua
presença, embora ausente,
ainda é
e sempre será constante
porque nos
seus versos, de plano,
e nos versos
do meu mano,
e agora nos
meus,
ele ainda
vive!
Santos/SP 17/10/06
Reeditado em 12/08/07
Dia dos Pais