Meu Pai... A presença constante

Queridos (as) amigos... especialmente aos amigos, sobrinhos, ao meu filho/genro e  ao meu companheiro,  que são pais eu dedico hoje este meu versejo, inspiração participante de uma Ciranda idealizada e coordenada por Raquel Caminha (Lindinha).

Pensei ainda o que eu poderia acrescentar de reverência ao Meu Pai.

Lembrei então de dois aspectos marcantes, para mim,  da sua vida... sua letra de escrita, que eu achava linda e queria imitar e ele me aconselhava...treine, treine muito,  essa é a chamada letra inglesa.

O outro, a devoção por Nossa Senhora de Fátima.

Foi Secretário Geral do Movimento que entronizou a Imagem da Mãe no Porto de Santos, que até hoje lá se encontra como símbolo da fé dos portuários, conforme fotos em que aparece de costas no descerramento do pano que cobria a  Imagem pelo Inspetor Geral das Docas e junto, atrás  do Revmo. Bispo Dom Idílio José Soares quando este a consagrava em bênçãos e meu pai venerando Nossa Senhora com o seu olhar para o alto, por certo orando.

Assim resgato nesta página algumas das nossas relíquias deste meu Pai Poeta e assim também o homenageio.

Para mim ele sempre será A PRESENÇA CONSTANTE.
Abreijos,
Gui

Nossa Senhora de Fátima - Rainha das Docas de Santos

13/12/1951

Citação inicial do manuscrito de um discurso que fez sobre Rui Barbosa.
 
 
 
 
MEU PAI...A PRESENÇA CONSTANTE
 
Gui Oliva
 
Foram  poucos anos que eu vivi com ele,
apenas até os meus juvenis treze,
mas foram tão intensos, tão profundos
e parece que, vivendo, descobri o mundo.
 
Era alto, esbelto e elegante
trajando sempre o seu talhado terno,
camisas brancas, gravata combinando,
assim se despedia de nós e ia para o trabalho.
 
A religiosidade era na vida a seta que indicava
a nós, seus filhos, os passos a trilhar,
a fraternidade e o respeito ao próximo,
esses os princípios que o seu viver pautava.
 
Era severo e nos cobrava, com rigor,
empenho nos estudos,
pois definia como a melhor herança a deixar
aquela forjada no esforço próprio como escudo.
 
Venceu na vida assim, com o trabalho duro,
arrimo de família completou apenas o primário,
mas nem por isso abandonou o gosto da leitura,
autodidata escreveu um livro, plantou árvores
e formou, até quando pôde, os filhos.
 
Era um poeta e versejou seus versos
cantando a sua terra, seu amor
à mulher-amada, amante e companheira-,
a dedicação aos filhos sempre em nexo
com seu fervor cristão, e o amor à natureza.
 
Amante da boa música ele se transmudava
quando à noitinha, chegando em casa,
depois do jantar, em torno da mesa,
reunia os filhos formando a bandinha.
 
Um era o clarinete
revezando-se como violonista,
outro o flautista,
eu a pianista, ele o bombardão,
 
e no intervalo da orquestração
soltava o chiste para a cantora:
"essa austríaca desafina mais
do que inhambu na cria"
e todo mundo ria...era só folia...
 
Suas viagens, de todo fim de semana,
nos levavam e conduziam à magia
do trem madrugador da Sorocabana,
para Itanhaém sua terra, sua esperança,
 
E lá então voltava a ser criança,
e eu o acompanhava em toda romaria -
fieira de peixe-galo, marisco e ostra lá na ilha,
ou bagre,  canoa rio acima - essa a pescaria.
 
Depois do almoço...peixe frito,
no fogão à lenha,
degustado e acompanhado da manema,
era no quintal a nossa lida,
recolher folhas secas, arrancar tiriricas
até à exaustão...e fim da tarde
todo o entulho juntado num montinho
ardia o fogueirão, estava escrito,
fazer fumaça pra espantar mosquito.
 
Ah! para versejar meu pai
preciso escrever além da conta,
pelo tanto que a presença dele
faltou e faz falta em mim,
 
Num sopro momentâneo ele partiu
assim, como um passarinho
alçando voo  livre,
 
mas sua presença, embora ausente,
ainda é e sempre será constante
porque nos seus versos, de plano,
e nos versos do meu mano,
e agora nos meus,
ele ainda vive!
 
Santos/SP 17/10/06
Reeditado em 12/08/07
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