Na minha frente,
caminha o poeta...
Cabeça branca. Corpo curvado e
aquele andar já desgastado pela
cansada ginga do tempo...
- Que sonhos o
acompanham nesta
última noite do ano?
- Que pedidos fará ao levar o frio cristal
da taça aos lábios?
Ali segue ele,
bem próximo, ao alcance
dos meus passos, de um simples gesto,
mas respeito a sua branca solidão.
Sempre me
comoveu a solidão dos poetas...
Caminham sobre versos, cativam os
amores impossíveis, desafiam sonhos
improváveis e, sobretudo, amam...
Amam a vida, a
morte, o poema sempre
inacabado, a desilusão.
Principalmente as desilusões de amor...
Em silêncio,
redefinem a tristeza, secam
emotivas lágrimas, abraçam com desejo a
madrugada e, com lábios cultivados no
prazer, beijam a mulher amada...
Na
tranquilidade do seu indolente caminhar,
o vento agora acaricia-lhe os prateados
cabelos e até parece segredar-lhe algo
que o faz sorrir.
Solidário
também sorrio no tempo em que
chego ao meu destino. Mas ele segue,
nos braços da ébria e alucinada multidão,
no caminhar ritmado dos seus cadenciados
passos.
Sem sentir, na
magia desta noite, é docemente
envolvido pelo duvidoso prazer desta festa.
E nossas solidões ali se afastam...
Talvez se
reencontrem no artificial brilho
dos fogos, no aguardado brindar dos cálices,
ou, quem sabe, na lembrança dos nossos
perdidos amores...
Que a noite se
ilumine e a multidão se cale,
o Poeta caminha pelo seu eterno mundo
de sonhos e fantasias...
Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ - 03/01/2008
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