Zé Ninguém!


Amargura confinado numa pequena cela
O nefando crime de um litro de leite roubar.
Desempregado, sofre mais esta mazela.
Era apenas leite para seu filho alimentar.

Onde pensa que vai, seu ladrão descarado?!
Interpelou-o o segurança do supermercado.
Faço isso por infelizmente não poder pagar,
É apenas um litro de leite, me deixe passar!

Não! Considere-se preso em flagrante delito!
“O criminoso”, indefeso, chorava muito aflito.
Testemunha do fato, eu quis tentar ajudar.
Eu pago o leite furtado. Pode o moço soltar!

Não! Minha função aqui é exercer a vigilância.
Ele vai ter que responder pelo crime cometido!
Mas esse furto não tem a mínima importância!
Olhe para o preso. Veja como está arrependido!

Debalde foi meu esforço em ajudar o coitado.
Para a delegacia foi imediatamente levado.
Queixa crime formulada, foi sumariamente julgado.
Cumpre um ano de reclusão a que foi condenado

Por esse “hediondo” crime ter perpetrado.
Um furto simples; nem sequer foi qualificado!
Só por não ter um daqueles advogados,
Aqueles que são contratados por deputados.

Durante sua prisão recebe auxílio reclusão.
Ajuda, mas não lhe poupa a humilhação.
Trabalhador honesto, um legítimo cidadão.
Por um gesto nobre, passou a ser ladrão!

Por delitos infinitamente maiores muitos têm se livrado.
Caso sejam espúrios milionários, serão inocentados!
Esta história se repete dia-a-dia, não é raridade.
A cadeia está lotada de pobres. Triste realidade!!

Ary Franco
(O Poeta Descalço)




Fundo Musical: 
Gente Humilde - Baden Powell

 
Anterior Próxima Poetas Menu Principal