A
CEIA
Olho para o velho relógio
na parede.
Seus ponteiros parecem
não andar.
Aguardo na varanda,
deitado na rede.
Na mesa, o champanhe para
brindar.
Ouço o esperado tocar da
campainha.
Corro célere em direção à
porta.
Afinal, está chegando
minha rainha.
Doravante, nada mais me
importa.
Todavia, à minha
frente surge um estranho.
Jovem ainda. Na certa um
adolescente.
Confesso que levei um
susto tamanho
Em suas mãos trazia um
bilhete urgente.
Em desespero, leio seu
curto conteúdo.
“Adeus, melhor agora que mais
tarde!”
Pasmo de desilusão,
permaneço mudo.
Uma chama crescente em
meu peito arde.
Busco entender onde
falhei com minha amada,
Tínhamos o casamento com
a data marcada.
Seria agora, no final
deste mês de março.
Ficou para sempre meu
fragoroso fracasso
Apago as luzes, deixo a
sala na penumbra.
Escura e solitária como
meu combalido coração.
Só dor, pesar e revolta
meu destino vislumbra.
Lágrimas insistem em
umectar minha decepção.
Ary
Franco
Fundo Musical: Abismo
De Rosas - Dilermando Reis