Vida de brasileiro, num é difícil não!

Recebi em 10/10/2008
 

Vida de brasileiro, não e difícil não!

Arneyde T. Marcheschi

Todo sábado é sagrado.
Lá vai a rapaziada pro
campo bater uma bola,
depois é já como religião
vão pro boteco beber,
azucrinar e paquerar.
E a mulherada fica logo
assanhada...
só quer saber de namorar
beber, dançar e muito beijar.
Garçom... sai uma Antarctica
bem geladinha, por favor
traz também um copo
pra moça bonita aqui do lado.
A moça em questão, é uma
morenaça... eita que gostosa,
rebola que nem um furacão.
A música começa
a morena samba sem parar,
trocando olhares dengosos
cheia de mas intenções.
Nossa! que rebuliço!
chegou o tal de Mauricio,
estivador, forte musculoso...
bem dotado, um garanhão.
Inveja da rapaziada...
bracinhos fracos fininhos...
xiiii a morena já se passou
pro lado do Mauricio
cheia de piscadelas, mensagens
maldosas, safadas...
E vai chegando gente
o salão do boteco fica estreito.
Até parece aquele tipo
de velório bem animado,
onde o defunto fica de lado,
e o que rola é salgadinhos,
piadas e muita cerveja gelada.
Quando (o defunto) é moço,
ainda aparecem certas moiçolas
chorando, desconsoladas...
pobres coitadas!
Mas se é um veio, coitado!
fica lá mesmo sozinho, jogado,
fazendo velório pra ele mesmo.
Nem as moscas fazem companhia
ficam mergulhando no meio
das espumas dos copos,
até caírem de pileque, oras
tá rindo? Mosca também fica
de porre sim senhor.
Já viu, quando elas começam
a rodar daqui, dacolá...
até num copo afundar
Chega o seu vigário e convida
a turma pra rezar pro amigo
que já passou pro andar de cima.
Copos vazios abandonados
cinzeiros cheios de bituca
e lá vão eles chorar do lado
do amigo no caixão.
Mas o pensamento tá longe,
tá lá no boteco da esquina
ai ai ai, aquele freezer cheio de
loirinhas... que delícia!
Mal o pobre desce a terra
os amigos batem em retirada.
Vão pro boteco beber mais umazinha
que é pra amansar a tristeza.
As moças vão pra casa,
lavar os cabelos, passar as
roupitas, afinal é sábado e
a noite promete...
Saiu o salário ontem,
a turma pode beber até cair
e depois alguém caridoso
passa lá e reboca todos.
Mas sempre tem um que fica
Não vou embora não... fica
aí comigo João,
vamos tomar a saideira...
pega o copo, tropica,
que barulhão!
O cara caiu da cadeira...
bateu o bundão no chão.
Simbora João, chega por hoje
nada de saideira,
senão você fica alí na ladeira.
Simbora, que amanhã é domingo
tem pelada, tem o flamengo
ai ai ai... pobre coitado, ai sim
ele vai amargar uma tremenda
bebedeira...
e ainda por cima fica tão triste
tão bebum que esquece
até da famosa saideira...
Mas depois vem a segunda-feira
chega de brincadeira
eles tem que pegar no batente
nada de ver o sol poente,
nem beber café quente.
O negocio é traçar um prato
de baião de dois, saladinha
de chuchu, jiló, tomate e dois
disco voador...
Ora só, sabe não, o que é
esse prato famoso de boteco?
disco voador de pobre
é ovo frito que deixa
aquele bafo tremendo,
que só miora mesmo
bebendo uma branquinha
ou saboreando aquela
gostosa da loirinha.
Mas nada de saideira
que a coisa tá preta,
o dólar hoje subiu a ladeira
e foi parar lá no
Cristo Redentor, que altura!
Tô bebo não meu irmão
tô é tentando pegar carona
no urubu, porque subir
até lá encima com a pança
cheia de cachaça, num é
mole naum... mas brasileiro
é tudo de bão, tudo irmão
eles até que dividem
um naco de pão,
mas a danada da safada
da branquinha ou loirinha
dividem não...
é coisa rara,
tá ficando cara
então cada um come seu quinhão
a seco mesmo, afinal o que
interessa é o timão
que vai fazer bonito hoje no Maracanã.
Brasileiro quer ficar rico não.
Se tiver mulher, cachaça, pelada
praia, carnaval e aquela gelada
tá tudo bão!
Eita vidão, precisa mais nada não!
Tô aqui de copo na mão, olhando
a Juliana Paes na televisão,
quer mais o que, meu irmão?
Assim desse jeito, nem preciso
mais de pensar no mensalão...

Vitória - E. Santo 10-10-2008
www.vidatransparente.com.br









Fundo Musical: Beber, Cair, Levantar A Saia Rodada