Queria fazer um pequeno barco
de papel
e pô-lo a navegar num charco
rodeado de flores.
Em seguida, com um fino pincel,
surgido das ondas da fantasia,
roubar ao arco-íris as cores
com que o pintaria.
Ah! Se queria!...
Um capacete de folhas de jornal
e uma espada de papelão,
prateada,
para, com a força da imaginação,
não temer nada,
ser um herói à escala nacional,
uma lenda bravia.
Ah! Se queria!...
Construir, com paciência, um avião
de madeira,
com linhas belas e puras,
e depois, com a minha própria mão,
numa oferenda primeira
elevá-lo às alturas
e deixá-lo, confiante,
nesse ar tão quente e brilhante
onde ele voaria.
Ah! Se queria!...
Arranjar uma meia de senhora,
daquelas que se deitam fora,
enchê-la de trapos sem valor
e fazer uma pequena bola
para exibir na escola,
por entre os ares de cobiça,
era o meu sonho maior,
um sorriso de alegria.
Ah! Se queria!...
Fechar os olhos, ir por todo o mundo,
na calma e na bonança
duma melodia,
era o sublimar
dum querer sem par,
mas no fundo, no fundo,
o que eu mais queria
era voltar a ser criança.
Ah! Se queria!...
António Barroso (Tiago)
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