PRESÉPIO VIVO
Ógui Lourenço Mauri
Lá nos bairros afastados da cidade,
Às avessas do que vemos nas vitrinas,
Proliferam os presépios de verdade,
No vão duma ponte ou num prédio em ruínas.
Pari passu com vistosa exposição,
Que contrasta com os fatos de Belém,
Acolá, sob a luz de vela ou lampião,
Tem "Maria" a parir um filho também.
Longe da soberba e da luz fluorescente,
Atrativos do comércio natalino,
A pobreza acolhe mais um inocente;
Indigente dá à luz mais um menino.
No Natal, Papai Noel toma as esquinas
E se alastra, com a data, um horizonte...
Alvoroço total diante das vitrinas,
E nenhum olhar pras cenas sob a ponte.
Nem o choro agudo do recém-nascido,
Que ressoa desde um parto miserável
Atrai pro presépio vivo, obscurecido,
Alguém da vã Sociedade responsável.
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 03.12.2005
(Reescrito em 03/12/2016)
Fundo Musical: La Luna
