Quando as pessoas se dispunham a ficar horas lado a lado,
inde-pendentemente das conversas, preparando a ceia, o Natal era
Festa de Confraternização.
Era a oportunidade para contar fantásticas histó-rias do Papai
Noel às criancinhas. Era dia de ir à Igreja rezar um pou-co,
agradecer, pedir benções; dia de muita comilança, de reunir a família para encher a pança; época
de suspiros de saudades
dos que se foram para outra cidade, país, continente ou para debaixo
da terra.
O Natal de hoje é bem diferente de tudo isso. É
"jogo rápido" porque há
muito mais coisas para se fazer e a interrupção
para confra-ternizar em família
virou chatice. Praticidade é a ordem do dia. Com-pramos
alguma coisa na padaria
ou supermercado mais próximo e car-regamos para uma das residências.
Cada ano
a festa é numa casa, pa-ra não sobrecarregar sempre a
mesma família na hora de
recolher os ossos. Os que moram em quitinetes é que se
dão bem: o fato de não
disporem de espaço para receber a família é uma boa
desculpa para se livrarem
do incômodo.
Por que corremos tanto?
Para onde vamos?
Criança já está careca de saber que Papai Noel é pura
tapeação dos mais
velhos, até mesmo porque nem existem mais chaminés
para o velhinho descer.
Para elas, Papai Noel é alguém vestido de velho que fica nos
Shoppings, onde elas
são obrigadas a enfrentar fi-las quilométricas para
sentarem no seu colo e tirar
uma foto, que vai ser descarregada no computador. Quando crescerem
um pouco
mais, vão abrir o arquivo, dar boas risadas e deletá-lo.
As melhores companheiras
das crianças não são as ilusões? Por que
as privamos delas?
Rezar na Igreja também passou a ser uma
atividade inviável. Quando a
turma consegue fazer todas as compras e preparativos para a noite de
Natal já está exausta e a Igreja já fechou. Afinal padre
também tem direito de fazer suas
comprinhas e descansar da marato-na que é ir ao comércio nessa época
do ano.
O que fizemos da nossa
fé? Somos todos deuses?
Como quase tudo que compramos nos supermercados para comer na
noite
de Natal contém glúten, açúcar, estabilizante, conservante,
acidulante, corante
e um monte de outros "ante", aqueles que estão voltados para
alimentação natural, são portadores de diabetes ou estão com excesso de peso, dispõem de muito
pouca opção para co-mer. Então o povo acaba "enchendo a pança" de
refrigerante
diet, no máximo um copinho de cerveja, especialmente se vai voltar para casa
dirigindo o carro.
Por que estamos
destruindo o mundo e nos destruindo?
Os ausentes já não são mais problema. Depois das facilidades
da telefonia
e da informática, saudade mudou de definição. Agora não
é mais "sentir a falta
de alguém"; é "sentir falta do cheiro de al-guém", porque todo o resto pode ser
resolvido on-line. Quanto aos que se foram para sempre,
lamentavelmente o luto
caiu de um ano para um dia ou, em alguns casos, poucos
dias. A pressa e a quantidade de afazeres diários nos impedem de chorar suas ausências.
Estamos nos
transformando em máquinas?
O Natal mudou. Ficou prático demais, compacto
demais... para o meu
gosto.
Há algo melhor do que um
forte abraço?
Mesmo assim...