Feitiço da Vila
Composição: Noel Rosa / Vadico
Interpretação:
Elizeth Cardoso & Jacob do Bandolim
Quem nasce lá na Vila nem
sequer vacila ao abraçar o samba, que faz dançar os galhos do
arvoredo e faz a lua nascer mais cedo.
Lá, em Vila Isabel, quem é
bacharel não tem medo de bamba. São Paulo dá café, Minas dá
leite, e a Vila Isabel dá samba.
A vila tem um feitiço sem
farofa, sem vela e sem vintém que nos faz bem... Tendo nome de
princesa transformou o samba num feitiço descente que prende a
gente.
O sol da Vila é
triste, samba não assiste porque a gente implora: "Sol, pelo amor
de Deus, não vem agora que as morenas vão logo
embora".
Eu sei tudo
o que faço, sei por onde passo, paixao não me aniquila... Mas
tenho que dizer, modéstia à parte: Meus senhores, eu sou da
Vila!
Estatua de
Noel Rosa
localizada
na entrada de Vila Isabel
Noel Rosa (Rio de
Janeiro, 1910 - 1937) foi um sambista, cantor, compositor, bandolinista,
violonista brasileiro e um dos maiores e mais importantes artistas da
música no Brasil.
Foi responsável pela união do samba do morro com o do asfalto.
Fato este que mudaria para sempre, não só o samba, mas a his-tória da
música popular brasileira.
Noel nasceu de um parto difícil em que o uso do fórceps pelo médico
causou-lhe um afundamento da mandíbula que o marcou por toda a vida.
Criado no bairro carioca de Vila Isabel, era de família de classe média,
tendo estudado no tradicional Colégio São Bento de 1923 a 1928.
Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou
gos-to pela
música.
Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida
da bo-emia
carioca.
Entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de
es-tudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao
samba e noitadas regadas à cerveja.
Noel foi integrante de vários grupos
musicais.
Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições, "Minha Viola"
e "Toada do Céu", ambas gravadas por ele mesmo.
Mas foi em 1930 que o
sucesso chegou, com o lançamento de
"Com que roupa?", um samba
bem-humorado que sobreviveu décadas
e hoje é um clássico do cancioneiro
brasileiro.
Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma se-quencia
de canções que primam pelo humor e pela veia
crítica.
Também foi protagonista de uma curiosa polêmica travada
atra-vés de canções com seu rival Wilson Batista.
Os dois compositores
atacaram-se mutuamente em sambas agressivos
e bem-humorados, que renderam
bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como
"Feitiço da Vila" e "Palpite Infeliz".
Entre os intérpretes que passaram a
cantar seus sambas, desta-cam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de
Almeida.
Noel teve ao mesmo tempo algumas namoradas.
Casou-se
em 1934 com Lindaura, mas era apaixonado mesmo por Ceci,
a dama do cabaré.
Passou os anos seguintes travando um batalha contra a tuber-culose.
A
boemia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o
artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais
puro, sempre voltava para o samba, a bebida e o cigarro.
Mudou-se para
Belo Horizonte, trabalhou na Rádio Mineira e en-trou em contato com
compositores amigos da noite, como Rô-mulo Pais, recaindo sempre na boêmia.
De volta ao Rio, jurou estar curado.
Faleceu em sua casa no bairro de Vila
Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o
perseguia desde sempre.
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