A expressão usada por pessoas muito
simples – “Deus quis assim” – mostra-nos claramente a resignação de perder tudo numa catástro-fe ambiental ou mesmo gente querida.
Não importa o tamanho
da dor, ela sempre passa.
Quando eu era criança, sem que ninguém tenha me explicado, ima-ginei que o significado dos sete dias após alguém ter nos
deixado fosse o início de uma retomada de vida de quem ficou.
Hoje eu vejo que a resignação tomou o lugar comum na vida.
Fico surpresa ao ver uma
mãe dando entrevista de batom, com a espontaneidade de quem conversa com a vizinha no portão.
Onde estão os valores que tínhamos e o cheiro de tecidos cheio de
florzinhas coloridas de quando éramos crianças?
O macarrão dos domingos
perdeu o gosto há muito tempo.
O bêbado continua sendo motivo de riso,
mas ninguém tenta se-quer ajudar.
É muito cômodo utilizar a expressão de
“não tenho nada com isso”.
Quando alguém vai embora para sempre,
todas as homenagens lhe são feitas.
Depois de algum tempo, esta pessoa
é tão esquecida que sequer se lembram que ela existiu que amou e sorriu
que teve gripe
e cata-pora, que adorava mingau de tapioca com leite condensado.
Criamos vaidade e indiferença e depois queremos consertá-las,
quando todas as coisas extremamente materiais estão arraigadas
em nossas crianças.
Não raro, anos passam sem que os que amamos
se lembrem de nós e que alguém tenha sequer se tocado que nós
trabalhamos ardua-mente para dar-lhes um mínimo de conforto um
dia.
O egoísmo tomou conta do mundo.
Tive uma vizinha que cuidava de uma filha tetraplégica
com a sim-plicidade de ir comprar pão na esquina.
Um dia perguntei como ela
fazia as coisas com tanta destreza.
Ela disse – “Sou movida a amor.”
Uma vez
fui ao supermercado com ela.
A música que se espalhava pelos corredores chamou
a atenção da minha amiga.
Era um conjunto inglês.
Sabem o que ela fez?
A cada
frase cantada pelo belo
conjunto musical ela a
“repetia”, cantando bem alto, como se fosse um dos
componentes da banda
e pouco se importava se tinha dezenas de pares de olhos
assustados olhando
pra ela.
Existem pessoas que nasceram para brilhar.
Esta é uma delas.
(Domingo de reflexões soltas)