Quando Hunter, meu boxer de quinze anos, morreu, jurei, entre lágrimas, que nunca mais iria ter outro animal, que nunca iria substituir meu grande amigo e companheiro de todas as horas.
Entretanto, certa manhã, ao caminhar, parei à beira da
calçada para esperar passar um carro e atravessar a rua. De repente, vi se mexer
uma “bolinha” preta e branca deitada no meio da via. Comecei a acenar
desesperadamente para o carro parar. Com uma brecada violenta ele conseguiu frear a
tempo. Peguei no colo o bichinho e o trouxe para casa. Era uma cadelinha que
deveria ter mais ou menos dois meses.
Levei-a para tomar um banho, para vaciná-la, e disse à veterinária que
minha intenção era, depois disso, doá-la para al-guém.
Assim que fui buscar a “menina” no pet shop, ela me recebeu com muita festa
e muitas lambidas. Fiquei comovida com suas boas vindas. Ela estava linda,
seus pelos negros brilhavam muito e contrastavam com os brancos... Duas
fitinhas amarelas, presas na altura de suas orelhas, faziam com que ficasse
ainda mais charmosa.
Eu estava agachada retribuindo seu carinho, quando a ve-terinária disse
que gostaria de ficar com ela.
Não tive coragem de dá-la mais.
Ela acabara de conquistar meu coração.
Quando eu saia com a Thoty - foi assim que a chamei – me perguntavam se ela era de raça, e, tantas foram as vezes que
isso ocorreu que, para
desfazer a dúvida, levei-a à Confederação Brasi-leira de Cinofilia para uma
avaliação. Seu porte físico, seu andar, sentar, deitar, seus dentes, a obediência, enfim todas suas carac-terísticas comprovaram que
ela era uma Border
Collie legítima e, por isso, aquela entidade quis dar-lhe o certificado
com pedi-gree, mas para isso eu precisava escolher um outro
nome, mais pomposo,
para ela... Em seu pedigree consta Condessa do Planalto, mas
aqui em casa
ela continuou sendo apenas minha Thotynha.
Passaram-se quatro anos, meus filhos casaram-se e, há poucos meses, meu
marido faleceu. Às vezes sinto-me muito triste, mas nunca sozinha. Minha
amiga me faz companhia, dorme ao lado de minha cama e a qualquer momento que
eu me levante ela me cumprimenta cheia de alegria.
Tomamos nossas refeições ao mesmo tempo.
Quando me sento à frente do computador para ver minhas mensagens
ela se deita ao pé da cadeira.
Onde quer que eu vá, ela está sempre junto a mim.
Apesar de nunca ter me esquecido do Hunter, Thoty ocupa hoje um
lugar especial em meu coração.