Os Jardins

Recebi em 18/07/2006


É comum se associar a lembrança de uma pessoa a algo que a cara-cterize. Digamos, seja seu toque pessoal.

Dia desses, ao passarmos por um jardim cheio de cores vivas, fo-mos surpreendidos por uma frase partida dos lábios de uma senho-ra: Um jardim tão bem cuidado me recorda minha avó.

A amiga que a acompanhava logo indagou do porquê.

A continuidade do diálogo, cujas frases nos chegavam com clareza, trazidas pela brisa mansa nos surpreendeu.

Minha avó, dizia, passou sua vida a plantar flores. Recordo-me da infância e do bangalô de minha avó. Quase não havia terra para plantar. A construção era nova e o local mais parecia um campo de batalha que as minas tivessem revolvido e deixado em total desa-linho.

Pois minha avó não desanimou. Com pedras desenhou retângulos no solo, afofou a terra, preparou-a e plantou suas amadas roseiras. Jardins eram a sua marca registrada.

A senhora alongou o olhar na distância, como a revolver a saudade na terra do coração e prosseguiu:

Era uma pessoa excepcional minha avó. Já mais idosa, os filhos op-taram por colocá-la em um apartamento. Mais segurança, diziam, menos trabalho. Afinal, eles temiam o peso dos anos naqueles om-bros já não tão fortes.

Quando vi o apartamento, entristeci. Tinha uma varanda sim, mas nem sombra de terra, onde ela pudesse utilizar da sua mágica pes-soal para transformar em um pedacinho de céu perfumado. Pensei que ela iria murchar. Imaginei-a a fenecer, como flores ao sopro do inverno rigoroso ou sob o sol escaldante do verão. Qual não foi minha surpresa ao visitá-la, alguns meses depois.

Levei-lhe um ramalhete de rosas multicoloridas, contando alegrar-lhe o lar.

Ela abraçou as rosas, agradeceu e seu rosto se iluminou como em êxtase.

São lindas, querida. E perfumadas.

Depositou-as com cuidado sobre uma mesa, tomou-me pela mão e levou-me até à varanda.

Naquele minúsculo espaço, a terra gentil permitia brotar rosas de delicado perfume e graça. As mãos mágicas de minha avó haviam transformado um retângulo de cimento frio em uma nesga de para-íso florido.

Suas mãos acariciaram as flores qual se o fizessem a um filho que-rido. Depois, ela me reconduziu à sala, e mostrou um troféu. As flores de sua varanda haviam sido eleitas as segundas mais belas de toda a cidade.

Transformar a terra inculta em um oásis de beleza ou deixá-la en-tregue às ervas daninhas e espinheiros é opção pessoal.

Assim nos jardins das nossas vidas. Podemos ser indiferentes e oci-osos, relegando tudo ao descaso, nada realizando de bom, de belo, de útil. Ou podemos optar por semear flores de alegria, rosas de ventura. Quiçá apenas umas tímidas violetas de discreto perfume.

Contudo, não sejamos dos que erguem espinheiros. Tornemo-nos jardineiros cuidadosos a fim de que, pelas veredas por onde transi-tarmos, deixemos o perfume e a beleza das nossas ações.

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Semeando estrelas, seremos convidados a espancar trevas.

Semeando esperanças, haveremos de nos tornar luzeiros para cora-ções entristecidos.

Onde quer que estejamos, sempre poderemos semear as luzes do amor e da esperança.

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Equipe do site www.momento.com.br, com base na história
“Os Jardins de Nossas Vidas”, da revista Seleções do
Reader’s Digest, 06/1998.
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Redação do Momento Espírita

www.reflexao.com.br

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