O significado da paz


            Em determinada passagem do evangelho, Jesus afirma:

            "Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como o mundo a dá".

            Evidencia-se que a paz do Cristo é muito diferente da paz do mundo.

            Para entender o significado da paz do Cristo, torna-se ne-cessário refletir sobre o que habitualmente se concebe por paz.

            Os dicionários fornecem inúmeros significados para esse vo-cábulo.

            Por exemplo, identificam-no com ausência de guerra, des-canso e silêncio.

            Ocorre que o descanso e o silêncio, por si sós, não significam necessariamente algo bom.

            Em uma penitenciária, no meio da noite, pode haver descan-so e silêncio absolutos.

            Mas é difícil sustentar que as criaturas que lá se encontram sejam pacificadas.

            Em um charco as águas são paradas e há silêncio nele e em torno dele.

            Contudo, não se pode ignorar a podridão que ali jaz oculta.

            Também é possível que algumas pessoas sejam conservadas  inertes e em silêncio, por medo.

            Determinada casa pode ser silenciosa e ordeira pelo pavor que o chefe da família inspira.

            Entretanto, a submissão criada pela violência nada tem de desejável.

            No âmbito internacional, ao término de uma guerra, fre-quentemente são impostas duras condições aos países derrotados.

            Ocorre que uma paz que esmaga os vencidos contém em si o gérmen de futuras violências.

            Também não raro percebemos coisas erradas acontecendo, em prejuízo dos outros.

            Mas podemos preferir silenciar, a título de preservar nossa paz.

            Assim, a paz, na concepção mundana, muitas vezes envolve opressão, preguiça e conivência.

            Não causa espanto que a paz do Cristo seja diferente da paz do mundo.

            Pode-se afirmar que a paz do Cristo  constitui decorrência lógica da vivência de Seus ensinamentos.

            Afinal, o mestre afirmou que não basta dizer Senhor! Senhor! Para entrar no reino dos céus.

            É necessário efetivamente realizar a vontade do pai celestial.

            Essa vontade encontra-se explícita nas palavras e nos exem-plos de Jesus.

            O céu a que se refere o Cristo não é um local determinado no espaço.

            Trata-se de um estado de consciência em harmonia com as leis divinas.

            A paz do Cristo não se identifica com a  inércia. É um subli-me estado de consciência, feito de serenidade e harmonia. É um profundo silêncio interior, que não depende das ocorrências do mundo.

            Essa paz somente pode ser desfrutada por quem ama o progresso e trabalha efetivamente no bem. Ela é muito trabalhosa e operante. Reflete o estado de quem pode observar com tranquili-dade os próprios atos. Só se sente assim quem cumpre seu dever. Não é um presente, mas uma conquista. O seu gozo pressupõe esforço em burilar o próprio caráter, em crescer em entendimento e compre-ensão.

            Apenas se pacifica quem procura desenvolver seus talentos pelo estudo e o trabalho constantes, e utiliza seus talentos na cria-ção de um mundo melhor.

            A paz do Cristo está à disposição de todos. Mas só a desfruta quem pratica a lei de justiça, amor e caridade, estabelecida por Deus para a harmonia da criação.

            Pense nisso!

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