O homem triste


           
Você passou por mim com simpatia, mas quando viu meus  olhos parados indagou em silêncio o porque vagueio pelas ruas.

            Talvez por isso apressou o passo, e ainda que eu quisesse chamar, a palavra desfaleceu na boca.

            É possível que você suponha que eu desisti do trabalho, no  entanto ainda hoje bati de porta em porta em vão.

            Muitos disseram que ultrapassei a idade para ganhar o pão,  como se a madureza do corpo fosse condenação à inutilidade.

            Outros, desconhecendo que vendi minha melhor roupa para  aliviar a esposa enferma, me despediram apressados, crendo que fosse eu um vagabundo sem profissão.

            Não sei se você notou quando o guarda me arrancou da fren-te da vitrine, a gritar palavras duras, como se eu fosse um malfeitor vulgar. Contudo, acredite, nem me passou pela mente a ideia de furto.

            Apenas admirava os bolos expostos, recordando os filhinhos a me abraçar com fome, quando retorno à casa.

            Talvez tenha observado as pessoas que me endereçavam gra-cejos, imaginando que eu fosse um bêbado, porque eu tremia, apoi-ado ao poste.

            Afastaram-se todos com manifesto desprezo, mas não tive coragem de explicar que não tomo qualquer alimentação há três dias.

            A você, todavia, que me olhou sem medo, ouso rogar apoio e cooperação. Agradeço a dádiva que me ofereça em nome do Cristo que dizemos amar, e peço para que me restitua a esperança,  a fim de que eu possa honrar com alegria o dom de viver.

            Para isso, basta que se aproxime de mim sem asco, para que eu saiba apesar de todo meu infortúnio que ainda sou seu irmão.

======================================

            Essa é a mensagem de um homem triste, quiçá como tantos que vemos perambulando pelas ruas.

            É bem verdade que alguns são de fato pessoas que se  com-prazem na ociosidade.

            Todavia há os desafortunados que apesar de trabalhar a vida toda, não puderam ajuntar moedas para o sustento próprio e da família, e que chegada a madureza, são condenados pela sociedade a viver como réprobos, embora sejam pessoas dignas.

            É comum observarmos homens e mulheres puxando um car-rinho de papéis e outros objetos recicláveis, para prover o próprio sustento.

            São nossos irmãos de caminhada evolutiva, que não tem  co-ragem de viver na mendicância, por isso trabalham com dignidade.

            Muitos de nós, no entanto, nos enfadamos com essas cria-turas que atrapalham o trânsito com seus carrinhos indesejáveis.

            O que não nos damos conta é que além do peso do carrinho, têm ainda que carregar sobres os ombros o peso da humilhação e  do desprezo impostos por uma sociedade indiferente.

            É verdade que todos nós estamos colhendo o que plantamos, e que aqueles que passam por essas situações precisam dessas expe-riências para crescerem espiritualmente.

            Entretanto, são nossos irmãos, filhos do mesmo Pai Criador, e merecedores sem dúvida - no mínimo - do nosso respeito.

            Se não os podemos ajudar, que não os atrapalhemos, jogan-do-lhes palavras amargas, nem menosprezando-os,  dificultando ain-da mais a sua caminhada.
          
======================================

Página do espírito Meimei, recebida pelo médium
Francisco Cândido Xavier em reunião pública da
Comunhão Espírita Cristã na noite de 11/11/1961, em Uberaba-MG.

======================================
Site Momento de Reflexão
www.reflexao.com.br


Fundo Musical: Ballade pour Adeline - Paul de Seneville
 

 
Anterior Próxima Mensagens Menu Principal