Afirmam que a morte não existe. Que não se trata
senão de uma passagem de um estágio para outro.
Será que para um coração de mãe que vê seu filho demandar a aduana do
túmulo, tais afirmativas valem como consolo?
Para um pai que acompanha, em lágrimas, o esquife que abriga o corpo do
filho morto, isto será suficiente?
Como aplacar a saudade sem limites e a dor superlativa? Haverá algo que
possa amenizar o sofrimento da ausência?
Aconteceu na vida de uma mãe que viu partir a sua pequena de se-te anos.
Tudo transcorreu como muito rápido. À tarde, ela brincava no par-que,
travessa e afoita como sempre.
Ao entardecer, voltou ao lar mais cedo do que o habitual, queixan-do-se de
dores de cabeça. Parecia um pouco febril.
Tudo foi levado à conta de um resfriado leve. A medicação suave se fez no
próprio lar. A criança se recolheu ao leito.
A febre e a dor aumentaram de intensidade nas horas que se segui-ram.
No dia seguinte, resolveu-se levar a criança ao médico. Interna-mento às
pressas, exames, diagnóstico terrível.
Em poucas horas o quadro agravou-se.
Depois, foi a longa espera do lado de fora do centro de terapia in-tensiva,
para as visitas com hora certa e rápidas.
Finalmente, a morte. O corpo gélido. A dor da separação. Os lábios que
sorriam, cantavam, emudeceram. As mãos que faziam carícias enrijeceram. O
corpo que realizava acrobacias nas árvores, no par-que de diversões tornou-se
imóvel.
Os dias que se seguiram foram de silêncio.
O tilintar do telefone, a conversa das pessoas, incomodavam.
Se sua filha morrera, tudo deveria vestir-se de luto, como seu co-ração de
mãe.
O jardim em primavera de cores parecia ofendê-la porque seus olhos somente
viam a escuridão, desde que o raio de sol de sua vi-da fora arrebatado.
Certa noite, sonhou. Viu sua pequena filha vestida de azul, cor que lhe caía
tão bem e realçava sua pele, seus cabelos, seu sorriso.
A pequena sorria, estendendo os braços: “mãe, por que tanta amargura e
revolta?”
A voz era doce e terna, falando-lhe enquanto a acariciava com suas mãozinhas
mimosas.
“- Findou meu tempo na terra, mãezinha.
Foi tão bom. Mas era somente o tempo que me faltava para com-pletar. Deus
permitiu-me a volta ao mundo espiritual, desde que cumpri o que estava
estabelecido.
- Por que chora, mãezinha, a liberdade de sua filha? Não vê como estou bem e
feliz? Estou com você e desejo vê-la sorrir novamente.
- Permita-se o retorno à alegria.
Dedique-se a crianças sem lar, doe meus brinquedos, faça outros pequenos
felizes em meu nome. E Deus, que tudo vê, nos abenço-ará a ambas.”
Quando despertou, na manhã seguinte, a jovem mãe trazia a nítida lembrança
das carícias e dos afagos da filha.
Ergueu-se, abriu a janela, aspirou o ar perfumado da manhã de luz, observou
as tintas da madrugada que se despedia, sorriu e decidiu-se por voltar a
viver com alegria e esperança.
Você sabia?
Você sabia que a morte pode ser comparada a uma breve despedi-da?
Os que nos deixam na terra, verdadeiramente não nos abandonam, já que para
os verdadeiros amores jamais se apaga a chama do afe-to.
Dessa forma, não existem adeuses, mas sim um “até breve”, pois logo mais
tornaremos a nos ver, a nos reencontrar, no mundo dos espíritos ou no mundo
corporal.
Nossos amores, se não estão conosco, ao nosso lado, permanecem em algum
lugar, porque jamais se perde a ponte entre o céu e o coração.