A doutora Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra de origem
suíça, espe-cializou-se em doentes terminais.
Assistindo centenas de crianças que estavam morrendo, ela nos diz
que
devemos aprender a ouvir.
Ouvir o que a criança expressa verbalmente. E mesmo aquilo que ela
transmite pela linguagem não verbal.
Crianças terminais, conta ela, sabem quando vão morrer. E
preci-sam
de
algum atendimento especial. Atendimento que só o amor incondicional
pode dar.
Falando de sua experiência, narra que conheceu um menino que aos
nove anos se encontrava à beira da morte.
Portador de câncer, desde os
3 anos de idade, Jeffy nem
conseguia
mais
olhar para as agulhas de injeção.
Tudo era doloroso para ele. No hospital, esperava a morte. O
mé-dico
sugeriu que se iniciasse uma nova quimioterapia.
Mas o menino pediu: “quero ir para casa, hoje.”
Os pais optaram por lhe satisfazer a vontade.
Quando Jeffy chegou em casa, pediu ao pai que descesse da pare-de da
garagem a sua bicicleta.
Durante muito tempo, seu sonho tinha sido andar
de bicicleta.
O pai a
comprou, mas por causa da doença ele nunca pode andar.
A dificuldade era imensa, até mesmo para se manter em pé,
então Jeffy
pedalou a bicicleta com o amparo das rodinhas auxiliares.
Disse que iria dar uma volta no quarteirão e que ninguém
o
segu-rasse.
Ele
desejava fazer aquilo sozinho.
A médica que o acompanhava, a mãe e o pai ficaram ali, um segu-rando o
outro.
A vontade era de segui-lo.
Ele era uma criança muito vulnerável. Poderia cair, se machucar,
sangrar.
Ele se foi. Uma eternidade depois, ele voltou, o homem mais orgu-lhoso
que se possa ter visto um dia.
Sorria de orelha a orelha. Parecia ter ganho a medalha de ouro nas
olimpíadas.
Sereno, pediu ao pai que retirasse as rodinhas auxiliares
e
levasse a
bicicleta para seu quarto. E quando seu irmão chegasse, era para
ele subir
para falar com ele.
Queria falar com o irmão a sós. Tudo aconteceu como ele
pediu.
Ao descer, o irmão recusou-se a dizer aos pais o que haviam con-versado.
Uma semana depois, Jeffy morreu. E, na semana seguinte,
era
o aniversário do irmão. Foi aí que o menino contou
o que tinha acon-tecido naquele dia.
Jeffy dissera a ele que queria ter o prazer de lhe dar
pessoalmente
sua
amada bicicleta.
Mas não podia esperar mais duas semanas, até o aniversário dele, porque
então já teria morrido.
Por isso, a dava agora. Entretanto, havia uma condição:
que
ele nunca usasse aquelas rodinhas auxiliares,
próprias para crianças
bem pequenas.
Quando os pais souberam de tudo, sentiram muita tristeza. Uma tristeza
sem medo, sem culpa, sem lamentar.
Eles tinham a agradável lembrança do filho dando a sua
volta de bicicleta
pelo quarteirão.
E mais do que isso: o sorriso feliz no rosto de Jeffy, que
foi capaz
de
conseguir sua grande vitória em algo
que a maioria encara como comum.
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Dizemos que uma pessoa é como o casulo de uma borboleta. O casulo é o
que ela vê no espelho. É apenas uma morada tempo-rária do ser imortal.
Quando esse casulo fica muito danificado, o ser o abandona.
É como a borboleta que se liberta do casulo.
Deixar o ser amado partir sereno, só é possível aos corações que amam de
forma incondicional e verdadeira.
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