A colheita de amanhã

Recebi em 22/05/2011


Aquele homem de cabelos brancos e rosto sulcado por profundas mar-cas que o tempo esculpiu, certamente tinha acumulado muitas expe-riências que a vida lhe proporcionara.

Quantos sorrisos, quantas lágrimas já haviam contemplado aquele ve-lho rosto agora cansado e quase sem expressão.

Empregou seu tempo de juventude construindo o futuro e amparando a esposa e os filhos. Agora que suas forças físicas estavam sumindo e o corpo quase não obedecia aos comandos do cérebro, ele foi viver com um dos filhos, a nora e o neto de seis anos de idade.

Sentia-se um intruso naquele lar. Tinha saudades da esposa, que já havia retornado ao mundo dos espíritos há alguns anos.

Nos primeiros dias o vovô se sentava à mesa para fazer as refeições junto com os familiares, mas a nora não estava gostando que aquele velho de mãos trêmulas derramasse alimentos sobre a mesa e no chão.

Sim, uma visão embaralhada e mãos que tremem, deixam rolar algu-mas ervilhas, derramar o leite do copo, sujar a toalha.

O filho e a nora não suportaram por muito tempo aquela sujeira toda, providenciaram uma mesa pequena e a colocaram no canto da sala. Agora o vovô passaria a comer lá, sozinho, pois o barulho das suas mastigadas rudes também incomodavam o jovem casal.

O velho homem também havia quebrado dois pratos e por isso passou a comer numa tigela de madeira, por ordem do seu filho.

O neto era a única pessoa que se aproximava do velho e só ele perce-bia que, vez em quando, uma lágrima rolava discretamente do olho do vovô.

Apesar da pouca idade, o garoto sabia que as lágrimas eram por causa do abandono e da solidão e tentava animar o vovô com sua alegria in-fantil.

Numa noite, em que o casal conversava na sala de jantar, o pai notou que o menino lidava com pedaços de madeira e outras sucatas joga-das no chão, e lhe perguntou interessado:

- Filho, o que você está fazendo com essas madeiras?

O filho respondeu com a doçura e a inocência de seus seis anos:

- Estou fazendo duas tigelas de madeira. Uma é para você, e a outra para a mamãe. Afinal, quando eu crescer vocês precisarão delas.

As palavras do garoto foram um golpe para os pais, que ficaram mu-dos por alguns minutos.

Depois, entenderam a lição e grossas lágrimas rolaram dos seus rostos jovens.

E, naquela mesma noite, na hora do jantar, o marido foi buscar seu velho pai e o trouxe para sentar-se à mesa e usar talheres e pratos como todos os outros.

Sem entender o que estava acontecendo, aquele homem de cabelos brancos e rosto sulcado por profundas marcas que o tempo esculpiu, pôde fazer parte outra vez do mundo dos vivos, apesar das mãos trê-mulas e da visão embaralhada.

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Os pais são espelhos vivos dos filhos, que neles buscam um norte para suas vidas.

Lembre-se sempre de que eles o observam e seguem as suas pegadas.

Por essa razão, vale a pena deixar marcas de luz e exemplos dignos de serem seguidos.

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Redação do Momento Espírita.

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