O JOGO DO
AMOR
Marcial
Salaverry
Existe um velho conceito, que pode ser considerado
preconceito sobre o amor, de que tão nobre sentimento, não passa de
um jogo, a ser usado para conquistar pessoas, e se conseguir
van-tagens.
Quem
assim pensa, não imagina como é tão antiga quanto ultrapassada
a velha crença de que não devemos mostrar o quanto amamos o outro,
senão ele vai brincar com nossos sentimentos.
E de que devemos
sempre "jogar" com os sentimentos, ocultando o que nos vai no
íntimo.
Será
que quando
amamos temos que usar um modo estranho de expressar esse sentimento
indo pela via contrária?
Temos que fingir, pois corremos perigo do
outro se sentir por demais seguro e aproveitar de nossa aparente
fragilidade?
E sentir que está ganhando o jogo?
Ledo e triste
engano.
Pior ainda é quando verbalizamos o que sentimos através de colocações
muitas vezes contradi-tórias, achando que o outro deva saber ler nas
entrelinhas e satisfazer nosso querer sem que precisemos ser claros.
Por vezes circunstancias podem inibir tais declarações explicitas,
mas nunca apenas para manter uma eventual "superioridade", numa boba
tentativa de ocultar o que lhe vai na
alma.
Nesse
caso, estabelece-se
um jogo, onde o "mais forte" se resguarda de um possível
sofrimento, sem pensar que as regras claras podem efetivamente levar
a felicidade.
Mas na realidade, no amor, não existe essa de que um é
"mais forte" que o outro.
O sentimento é por demais democrático, e
nivela tudo e a todos.
Quando se ama, ama-se, independendo de
quantas vezes se declare explicitamente esse amor, que pode ser
manifestado implicitamente, sem que se lhe diminua a
intensidade.
Tolo
de quem pensa que o amor é um jogo.
O amor é um sentimento tão pleno
que, tendo-se a oportunidade, ou melhor, a felicidade de
senti-lo, devemos nos expressar com a verdade, falando como
sentimos e o que sentimos, explicita ou implicitamente, por palavras
ou por atitudes.
Só
não é possivel mensurar o amor verdadeiro.
Ele é... ou não é.
Assim,
não é mais ou menos, ou muito grande ou ainda quase amor.
Se
jogamos, se nos omitimos, se não nos expressamos com clareza e
fidelidade, estamos apenas fazendo um jogo de sedução.
E a esse
jogo, não se pode dar o nome de amor.
E nem será mesmo, um real
amor.
Quando
não existe espaço para a verdade, a liberdade de expressar essa
verdade de dizer com sentimento o "eu te amo", sem o medo
da perda de valores tais como "eu sou" ou "eu posso", ou até mesmo
"eu me basto", não estará havendo uma relação madura, onde o
respeito e a liberdade de expressão estão coibidos pelo ego, pelo
não sentir, pelo desamor enfim.
É simplesmente um jogo, salvo se
houver motivos inibitórios, pois cada caso é um
caso.
Não
há necessidade de temer dizer claramente o que sentimos,
quando efetivamente sentimos.
Somente haverá ganho quando existir a
reciprocidade.
Em não existindo, nada se perde, pois nada tivemos.
Aí será um jogo sem vencedor... apenas dois perdedores se
desafiando.
Um
outro derivador, quando enveredamos pela senda do amor, é o ente
amado entender a gran-deza de nosso sentimento.
O relacionamento no
amor tem que ser construído a todo momento.
O amor existe por si só.
Não precisa ser "regado".
Mas o relacionamento no amor, esse sim.
Quando
estamos em estado de amor nossa alma abre-se para sua real condição: a pureza de uma criança.
E como criança, é inquisitiva
e insegura.
Não no que sente, mas o que fazer nesse sentir,
como gerenciar esse sentir.
E
também como criança, inicia balbuciando as primeiras silabas.
As
vezes de maneira até temerosa pela própria situação de vida dos
seres que se amam.
Claro que os dois lados possuem uma história de
vida.
E nessa história, tantos aprendizados e conceitos são
firmados, que a criança vai esbarrar e sempre questionar... será
assim?
Não será melhor
assim?
Mas
se o amor chegou e se instalou, esse encontro será marcado por
compreensão e respeito.
Tal qual criança que estende a mão e a
coloca na tomada, onde terá um alguém a lhe dizer que aí pode
dar choque, também esses dois seres que agora estão aprendendo
a vivenciar o amor verdadeiro, eles irão cometer erros, falhas, que
apesar de involuntárias, servirão para estabelecer os limites do
ferir, do magoar.
Em
estado de amor, serão duas crianças a crescerem juntas, a
descobrirem juntas qual é o verdadeiro caminho para a felicidade.
E
as palavras irão se formando, os pensamentos se organizando, até que
finalmente as sílabas se convertem em palavras.
Três palavrinhas
apenas, que significam todo um dicionário: EU TE AMO.
E
principalmente, quando se definir a existência de um sentimento
vivido em reciprocidade, entra em campo algo muito importante, que é
o respeito à individualidade da parceria.
Jamais poderemos querer
que nossa parceria seja como nós queremos que seja.
Temos que
respeitar sua maneira de ser, procurando amoldar-nos à sua
personalidade, ao mesmo tempo em que ela procura amoldar-se à nossa.
Esse é o real segredo do amor.
O respeito mútuo. E isso só pode ser
conseguido com muito diálogo.
Um diálogo leal, sincero, sem
subterfúgios, cada um abrindo sua alma, suas necessidades, seus
problemas...
E
assim, possibilitando ao amor,
UM LINDO
DIA.
Marcial Salaverry
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