Envelhecer com dignidade
 
  Recebi em 01/02/2006

Não devemos permitir que o tempo que envelhece nosso corpo,
envelheça também nossa alma.
Ósculos e amplexos,
Marcial


ENVELHECER COM DIGNIDADE
Marcial Salaverry

Ao nos olharmos no espelho, temos consciência
de que estamos envelhecendo, ou melhor, estamos idosando, porque os sinais da passagem do tempo
são inequívocos, mas enquanto a alma não envelhecer, apenas estaremos colecionando anos.


Portanto, temos que adquirir consciência de que
não somos uma mera peça imprestável nesta vida,
pois é apenas nosso corpo que apresenta as
marcas do tempo.


Claro que não temos  mais a mesma capacidade
física, que sempre animou e nos deu vitalidade à 
juventude, e, claro, não temos os mesmos
reflexos e disposição.

Contudo, não podemos nos deixar vencer pelo
desânimo, nem tampouco pedir aquela aposentadoria
total, que nos levará apenas a contar o tempo que
ainda falta.

Claro que não podemos permitir que nossa vida
murche e feneça, enquanto apenas esperamos as
coisas acontecerem.

Algo é preciso ser feito, em benefício de
nossa alma que ainda quer viver.


Uma coisa que acontece nessa fase, é começar com
a ideia fixa de que nada mais temos a fazer,
e ficamos apenas falando de nossas dores e mazelas,
e queremos chamar a atenção do mundo para que
alguém cuide de nós.

Esse ponto é crítico.

Sinal de que realmente estamos nos
entregando à velhice.


Devemos usar nossa vivencia para ensinar aos
mais jovens, e devemos dialogar com eles,
e não apenas monologar sobre nossos problemas.

Ouvindo, podemos sempre aprender algo a mais
que nos possa ajudar a viver melhor.

E que nos permita também ajudar a outrem,
mostrando que ainda temos vida.

Que ainda somos úteis e necessários.

É importante descobrir que talentos temos e que
ainda não foram descobertos para que possamos desenvolver algo, seja no campo da música,
da pintura, da jardinagem, da cerâmica, da literatura.


Todos temos algum talento artístico,
e se eventualmente ainda não foi descoberto,
sempre será tempo de fazê-lo.


Afinal temos que descobrir a melhor ocupação
para o tempo de que dispomos, e que nos dias
da juventude, nunca tínhamos, pois precisávamos
ganhar a vida e assegurar o futuro.

E agora, podemos realizar velhos sonhos, e devemos
a cada dia despertar  dispostos a aprender
alguma coisa mais.

Pode ser uma forma diferente de usar o pincel,
uma breve poesia, um ensinamento, uma receita
culinária nova, sempre existirá algo que poderemos
melhor desenvolver.

Assim se fazem as grandes descobertas.

A idade não deverá nos transformar em pessoas
rabugentas e sisudas, poderemos ser joviais,
sem exagerar para não parecer tolos.


Se por acaso não fomos pais muito atentos aos filhos,
pois nossas obrigações nos exigiam muito,
poderemos agora ser avôs ou bisavôs que possam
dedicar algum tempo aos netos e bisnetos,
tomando cuidado para não os mimar, mas sim educar, ensinando-lhes a viver, ensinando-lhes a amar e
respeitar os mais velhos, e a vida, e,
principalmente a si próprios.

Poderemos apresentar-nos como exemplo do que
uma vida sàbiamente vivida representa no futuro.


Claro que sempre devemos ter presente que,
apesar de toda nossa experiência, podemos estar
errados em alguma coisa, e sempre será tempo para
corrigir algo que possa melhorar nosso relacionamento
com o mundo e as pessoas que nos cercam.

E como a ciência está em evolução constante,
não podemos nos fechar em nossos conhecimentos,
pois temos que evoluir com o mundo.

Sempre haverá algo a ser aprendido e apreendido.

Se nossa capacidade física fraquejar, deixando-nos
com alguma  dependência, precisaremos da ajuda
de nosso Amigão, pedindo que nos dê paciência,
que nos permita suportar o corpo que tanto nos serviu,
e que agora mostra as limitações causadas pela
marcha inexorável do tempo.


Dançamos, fizemos esporte, brincamos, viajamos,
tivemos bons e maus momentos, e o que foi vivido,
mostra que devemos agora e sempre continuar
amando nosso corpo, e devemos sempre cuidar dele.


Principalmente, não devemos ser inconvenientes, procurando  não incomodar tanto aos demais.

Devemos aprender  a pensar duas vezes, antes
de reclamar, insistir e exigir o que quer que seja,
a quem tenha que cuidar de nós.

Devemos aprender a cultivar a paciência.

Se por acaso perdermos quem esteve sempre a
nosso lado, não devemos chorar essa perda.

Sentir a falta é uma coisa, viver lamentando e se
lamuriando é outra coisa, e isso não deve acontecer.

Podemos usar as boas lembranças de alegres
momentos vividos juntos para minimizar a
dor da ausência querida.


Sempre devemos cultivar boas amizades,
que poderão nos ajudar a viver melhor o tempo
que ainda temos por aqui.


O mais importante é contar sempre com a ajuda
divina, de nossos entes queridos e de nossos amigos,
a fim de termos um envelhecimento digno, e que
sempre sejamos lembrados com um pensamento
e um comentário favorável, como alguém que viveu dignamente, e que soube sempre ser uma pessoa que espalhou luz e amizade por onde andou.


E sempre fazer de cada dia, UM LINDO DIA.