Certas coisas da vida

Recebi em 16/07/2006


Não podemos nos esquecer de que existe vida,
de que existem pessoas a nossa volta...
E elas precisam da mesma atenção que desejamos ter...
Ósculos e amplexos,
Marcial


CERTAS COISAS DA VIDA
Marcial Salaverry

Um dos grandes defeitos que praticamente todos temos, é sempre estarmos mais atentos a nossos umbigos, do que às necessidades alheias.

Realmente, é muito comum querermos que os outros estejam sempre atentos a nossos quereres, sempre estarmos a exigir a atenção para nossos desejos, querendo que sejam atendidos.

Esquecemo-nos muitas vezes de pensar que nem sempre pode-mos ser atendidos.

E muitas vezes nos magoamos com isso.

Porém, ao exigirmos isso dos outros, será que estamos fazendo nossa parte?

Ou seja, estaremos nós atentos ao que se passa com os ou-tros?

Estaremos dando a devida atenção aos desejos alheios?

Ou será que, preocupados com nossos problemas, com o que ocorre conosco, não estaremos fechando os olhos e o coração para os outros, que, certamente apreciariam a nossa atenção para com eles.

Se à nossa vida falta poesia, falta amor, falta carinho, é necessário que, antes de começar a criticar o mundo que tudo nos está negando, façamos um exame de consciência para saber qual o nosso grau de culpa nessa atitude hostil para conosco.

Não estará em nosso interior a causa de tudo?

É imprescindível perguntarmo-nos se estamos procurando doar algo de nós.

Se estamos dando às pessoas de quem reclamamos atenções e carinho, essa mesma atenção, esse mesmo carinho.

A vida é uma eterna troca, é uma longa estrada de mão dupla.

Tudo aquilo que passamos por uma das vias da estrada, rece-beremos de volta.

Geralmente (claro que nem sempre ocorre essa troca, pois alguém, muitas vezes deixa de fazer uma entrega adequada), se passarmos amor, compreensão, apoio, carinho, deveremos receber tudo isso de volta.

Porém, se pelo contrário, egoisticamente nos fecharmos em nosso mundo, e só passarmos a cobrar tudo de todos, acaba-remos por receber reações hostis.

É normal que isso aconteça.

Se só passarmos cobranças, receberemos igualmente cobranças.

Não vale a pena também ficar armazenando mágoas.

Se acharmos que alguém nos magoou, sempre é necessário veri-ficar se isso foi feito voluntariamente ou não.

A única maneira de se dirimir uma dúvida, é uma conversa franca e direta.

Essa conversa deve ser feita na primeira oportunidade, e o mais rapidamente possível, pois se a formos protelando, mais a mágoa crescerá dentro de nós, e o causador, voluntário ou não, esquecer-se-á do ato praticado.

Devemos ter presente que, da mesma maneira que alguém nos fere, também podemos ferir alguém sem o perceber.

E vai se formando uma bola de neve, que por vezes leva tudo de roldão.

Por vezes, quem nos magoou, não se apercebeu do fato e con-tinua agindo da mesma maneira.

Nada falamos.

Nossa mágoa aumentando.

A raiva crescendo dentro de nós. E o outro sequer nota, o que mais aumenta a mágoa, que com o correr do tempo se trans-forma em raiva, e acaba virando ódio.

Um dia descarregamos tudo.

Todas as frustrações.

Todas as raivas.

E ficamos estarrecidos ao descobrir que do outro lado também existiam queixas.

Também o vínhamos ferindo e, fechados em nossa raiva, não notávamos o movimento na estrada de mão dupla.

Até acontecer o acidente fatal.

E se não houver uma dose de equilíbrio muito grande, as coisas podem tomar rumos inimagináveis.

Quantas boas amizades terminaram por causa disso.

Houvessem dialogado antes, tudo poderia ser esclarecido.

Um pedido de desculpas, uma mudança de atitude e quantos aborrecimentos teriam sido evitados.

Mágoas nunca devem ser armazenadas.

Dúvidas sempre devem ser dirimidas.

Diálogo é a palavra de ordem.

É o que gera o entendimento, a compreensão.
A propósito, recebi uma mensagem do nosso inesquecível Charles Chaplin, que define bem o assunto. Vejam:

"Esquecendo os erros do passado construímos nosso novo mun-do.

Talvez nos falte poesia...

Talvez nos falte amor.

Mas com certeza podemos dar um pouco mais, pois com certeza o amor que não damos é o mesmo que não recebemos.

E talvez mirando-nos em exemplos de coragem, trabalhando pela paz e compreensão entre os homens, possamos um dia erguer os olhos novamente"
 
Midi - Qualquer  dia
Formatado por Thereza Cristina
 


Fundo Musical: Qualquer Dia