Olhando a rua deserta vejo, ao longe, as pessoas paradas e olhando algo no chão e, curiosa que sou, vou me aproximando...
Escuto vozes alteradas, criança chorando e o som, cada vez mais crescente de uma sirene, se misturando a multidão que cresce em volta do vulto
que vejo estendido na calçada.
Os comentários são os mais diversos: “Ele atravessou a rua corren-do,
nem olhou o sinaleiro.”, “Ele entrou na faixa e o
carro avançou o sinal vermelho.”, “Ele nem viu o carro se aproximar porque estava distraído...”, “Alguém
está com ele?”, “Quem o conhece”, e assim as
opiniões vão se formando junto com o tumulto que está cada vez maior nos quatro lados da esquina.
As avenidas fechadas para as quatro direções, uma vez que o cor-po,
com o baque, foi cair bem no meio das pistas e ninguém sabe nem dizer de
que lado ele vinha.
O carro que o atropelou, (ou foi ele que atropelou o carro?), não parou e ninguém anotou nem a placa.
O corpo está lá, uma poça de sangue se formou em
torno de sua cabeça, parecendo uma auréola avermelhada e escura, e não se percebe nem seu
respirar.
Será que morreu?
O socorro chega, os enfermeiros o colocam em uma maca com todo
cuidado, colocam na traseira do resgate e saem em disparada en-quanto as
pessoas se dispersam.
O fluxo dos carros recomeça enquanto o som da sirene vai morren-do
ao longe...
Cada transeunte volta para sua rotina, seguindo seu rumo e, dali a
alguns dias ninguém nem mais se lembrará, a não ser quando ver outro acidente ou em comentários em rodas de amigos.
Volto para minha casa pensando se o moço está bem, penso tam-bém
que sempre é assim...
Nas esquinas de nossas vidas, as pessoas passam, os incidentes acontecem, assim como os acidentes, e muitas vezes nem volta-mos para saber se quem partiu ficou bem ou não.