La poesie, by Lambert Adam, 1752
AO POETA…
Carmo Vasconcelos
em abarcar seu olhar
onde mora a imensidão…
Sem pretender decifrar
se ele nos ama ou se não!
Pois nem ele próprio sabe
se tem lugar, se em si cabe,
único, um amor profundo…
Em seu peito alberga o mundo,
paixão feita inquietação!
Prosa, rima, abstracção,
fervem-lhe na alma em cachão,
gelam-lhe as mãos longos frios…
Nas ânsias do coração,
escorre-lhe o sangue em rios!
E corre sem direcção,
sem rumo, na indecisão
de prender-se a uma só voz…
Poeta é um rio sem foz,
sem margens a sua ilusão!
Poeta só pode amar-se,
sem pretender sufocar-se
o éter que em versos respira…
Seus silêncios aceitar-se,
dados aos longes que aspira!
Afagando o seu regresso,
sem nunca dizer-lhe “peço”,
mas seu voltar festejando…
Que ao voltar, é porque amando,
traz seu amor inconfesso!
Nutrindo-o de imaginário,
dando-lhe a beber o vário,
mesa e cama, encantamento…
Saciando-o de rimário
na poesia de um momento!
Só do agora lhe servir,
que ele dispensa o porvir
e os sabores de amanhã…
Poeta sorve a maçã
madura… pronta a cair!
Deixem que as musas o amem,
do etéreo não o chamem,
que as pedras do chão lhe doem…
Do sonho não o acordem,
alcem-lhe penas que voem!
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(In 2ª Antologia do Grupo Ecos da Poesia – ano 2006)
Fundo Musical: Trish Trash Polka - Johann Strauss
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