MULHER DE DUPLO PAPEL
 
Ógui Lourenço Mauri
 
A cada 8 de março que chega, o "Dia Internacional da Mulher" dá mostras de que a fatia "homem" da Humanidade vê, cada vez mais com os olhos do reconhecimento, o papel da mulher na Sociedade.  E pari passu com os  avanços dela -- inconteste gênese dos humanos --, têm aumentado, quando chega essa efeméride, as homenagens e as reverências provindas do vaidoso território masculino.
 
À mulher, no seu dia internacional, não faltam elogios à mãe, carinhos e afagos à esposa, à namorada, à namoradinha... Sobram gestos de apreço à irmã, à amiga mais chegada e menção à parteira do primeiro tapinha. E vem o reconhecimento à professora, à médica da família, à instrutora do catecismo... No "Dia Internacional da Mulher", dedicam-se preitos de admiração à atriz da novela, à atleta do basquete, à cantora, à escritora. Para muitos, bate forte n'alma recordações do ente-mulher que já deixou o mundo dos vivos: saudade da esposa que já se foi, da filha precocemente chamada para a Pátria Espiritual. Para certos mortais, paira a imagem da mulher que eles não conheceram: a que morreu de parto no seu nascimento. E ainda há os que buscam, em vão, homenagear a mãe que, por razões que não querem saber, deixou o bebê na mão de estranhos e desapareceu.
 
São muitas, justas e crescentes as homenagens que o homem, como indivíduo, tem prestado à mulher. É um reconhecimento -- pessoal e todo seu -- dos avanços e conquistas dela nos últimos tempos. No entanto, nesses "8 de março" todos, os jornais e meios de comunicação não têm seguido a postura desses indivíduos na homenagem à mulher e tampouco têm dado abrangência maior no enfoque das atividades femininas.
 
A cada "Dia Internacional da Mulher", esses veículos apenas se preocupam em homenagear, destacar, tecer loas e descobrir predicados em mulheres políticas, empresárias, artistas, intelectuais, "socialites" e outras do mesmo naipe. Suas matérias contemplam geralmente nomes que alavancam a tiragem do jornal ou a audiência da TV. Quando não, focalizam clientes em potencial para suas publicações remuneradas.
 
Nenhum desses órgãos lembra de homenagear a mulher que, identificada com a miséria, exerce duplo papel na missão que o destino lhe reservou. Aquela que, ignorada pelo jornal, desampara-
da pela assistência  oficial e descartada pela população de posses,  desempenha, a duras penas
as funções de pai e mãe ao mesmo tempo, inclusive para os netos.
 
Não precisamos avançar na procura para encontrar mulheres que -- mãe solteira, ou separada, ou abandonada pelo companheiro -- assumem com muito amor e responsabilidade as funções de pai e mãe. E as exercem com dignidade, fazendo jus ao respeito e apoio da Sociedade.
 
É para essa mulher esquecida -- de duplo papel -- o meu aceno, a minha homenagem!
 
 
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 07/03/2003

 


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